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15 março 2011

Pop # 17 - Pale Saints - “The Comforts of Madness” (1990 4AD)

No seu disco de estreia, os Pale Saints, conseguiram misturar o lado mais experimental e atonal do “indie rock” com uma pureza melódica, numa época onde a fusão entre o “dream pop” e um gentil “shoegaze” era bastante comum, mas que poucos o fizeram como eles e essa associação ainda continua única nos nossos dias.
Aqui estamos presente uma matéria-prima energética aliviada por uma pureza pacífica.
Com uma personalidade muito própria, ao invés de apenas criarem um som abafado e atropelado por cascatas de guitarras, deram-nos canções muito elaboradas na sua estrutura, extremamente aconchegantes e onde se nota é visível um verdadeiro esforço em serem algo mais do que apenas uma banda com uma sonoridade etérea. E se é verdade que no espectro do “shoegaze”, os Pale Saints (que sempre pareceram criminalmente sob considerados) estão mais próximos de uns Cocteau Twins - com excepção dos gloriosos sintetizadores que são substituídos por um formato sonoro mais “rock” - existe definitivamente uma sensação “4AD”, mas também há algo verdadeiramente único neste registo.
Assim desde a primeira faixa, “Way The World Is”, eles não parecem seguir uma fórmula, e cada faixa segue para a próxima sem lacunas, pois eles possuem um verdadeiro ouvido para uma musicalidade progressista, e preenchem os espaços muito bem, executando mudanças dentro das canções com uma magistral precisão.
Existe um absoluto equilíbrio entre a excentricidade e a formalidade da estrutura “pop” ao longo do álbum, e em canções como “Little Hammer”, aventuraram-se numa direcção onde provavelmente nenhum dos seus contemporâneos nunca tentaria.
A combinação entre voz incrivelmente doce, misteriosa e assustadora de Ian Masters com o harmonioso trabalho de guitarra produzido por Graeme Naysmith deixou-nos pequenas maravilhas como “Sea of Sound”, “Insubstantial”, “Language of Flowers” ou “Sight of You” que nos guiam numa belíssima e transcendental viagem.
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04 fevereiro 2011

Pop # 16 - Apple Boutique – “Love Resistance” (1987 Creation)

Lembro-me perfeitamente que foi na nossa querida RTP2, que no final das tardes dos anos 80, passava programas musicais originários de Inglaterra, um deles, às 6ª feiras, era dedicado à música “indie”, e foi aqui que ouvi pela primeira vez, este registo único elaborado por dois ilustres secundários, Philip King e John Mohan, que entre outras bandas, tocaram nos The Servants, Lush e Felt (que curiosamente gravaram uma canção intitulada “Apple Boutique” no seu álbum de 1988, “The Pictoral Jackson Review”).
Aqui brilhantemente cruzaram uma bela melodia com uma letra simplíssima no que iria resultar numa perfeita canção “pop”, que é uma alegria pura ouvir repetidamente.
Destaca-se o excepcional trabalho de guitarra e a interacção entre os instrumentos, numa forma delicada e inspirada de tocar o denominado “jangle pop”, que nos anos 80 era encharcado pela sonoridade das Rickenbacker inspiradas nos The Byrds, mas que aqui se mostrava visionário em comparação com a s maioria das bandas da altura.
O lado B inclui ainda a enorme “The Ballad of Jet Harris”, uma canção quase instrumental que gradualmente cresce até atingir um elegante final (e aqui eles rivalizam com os melhores Felt) e a interessante “I Don’t Even Believe In You”. Um verdadeiro tesouro perdido.
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14 outubro 2010

Pop # 15 - The Delgados – “Peloton” (1998 Chemikal Underground)

Antes de chegarem a "The Great Eastern", os The Delgados progrediram brilhantemente do “trash-pop” influenciado pelos Sonic Youth de “Domestiques” (1996) para uma mais detalhada palete sónica em “Peloton”, adicionando flautas, ao estarem recheados de quartetos de cordas e ao incluir o ocasional “sample”, fazendo com que cada canção tivesse arranjos verdadeiramente únicos. E se a isso juntarmos o facto de Emma Pollock e Alan Woodward ao alternam as vocalizações, fazem com que os seus sedutores tons celestiais tenham um efeito paliativo sobre o ouvinte.
O processo de aprendizagem que os levou de um extremo para o outro, desdobra-se diante dos nossos olhos. Os primeiros temas são particularmente bons exemplos – em “The Arcane Model” e especialmente na esplêndida “Everything Goes Around the Water”, existe uma fusão entre o deslocado “pub rock” de “Domestiques” com o estranho tom de suavidade aveludado da sua música posterior.
Pollock surge magnífica nos tons melodiosos da suave “The Actress”, e na viçosa e mágica “Pull The Wires From The Wall” a sua contribuição é particularmente impressionante. A presença da guitarra acústica e do violoncelo na introdução faz evocar Kristen Hersh, mas há também uma pitada de Marianne Faithfull na assustada mas avaliada entrega de Pollock. Mais emocionante ainda é “Blackpool”, um sinistro relato em que as alterações dos tempos são negociados por uma bizarra acrobacia fonética que encanta e confunde o ouvinte. E o francamente mental “Repeat Failure” que soa como se os My Bloody Valentine estivessem a massacrar os Belle And Sebastian, escutado através de um exausto rádio de onda curta.
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06 setembro 2010

Pop # 14 - Luna - “Lunapark” (1992 Elektra)

Primeiro com os Galaxie 500, e seguidamente com os Luna, Dean Wareham conseguir formar uma elegante carreira a explorar os cantos e os recantos do auto-titulado terceiro disco dos Velvet Underground.
Tal como Lou Reed, Wareham é um mestre no jogo das palavras geradas a partir de conversas mendanas.
Mas onde Reed comemora as agrestes histórias do “underground” de Nova Iorque, Wareham prefere escrever canções de amor para os neuróticos urbanos que assombram as áreas do Lower East Side.
Escolher um disco favorito dos Luna, é então tão difícil como escolher entre “What Goes On”, “Pale Blue Eyes” ou “Beginning To See The Light” dos Velvet.
Mas, pelo menos hoje, fica aqui uma inclinação para o disco de estreia da banda.
Em “Bewitched” arredondaram a sonoridade da banda com um segundo guitarrista; “Penthouse” aperfeiçoa o estilo Luna; e “Pup Tent” acrescentou algumas lúdicas ondulações experimentais. O sonhador “Lunapark” é o que se sente mais relaxado e mais variado, com o ex-baterista dos The Feelies, Stanley Demeski e o ex-baixista dos The Chills Justin Harwood a trazerem uma sensação de firmeza e coesão na performance que por vezes faltava na derivação estética dos Galaxie 500 e com Wareham a providenciar melodias eternas e memoráveis na harmoniosa guitarra e nas elevadas vocalizações.
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26 maio 2010

Pop # 13 - Beulah - “Yoko” (2003 Fargo)

O quarto disco dos Beulah é um épico “indie-rock” apaixonadamente ecléctico.
Produzido pelo experiente Roger Moutenot (conhecido pela sua longa colaboração com os Yo La Tengo), e em comparação com os registos anteriores revela uma maior profundeza de detalhes e será provavelmente o mais sombrio e melancólico. Pois o que poderia ser um consciente passo para longe das harmonias solarentas dos discos anteriores, não é mais do que o relato dos problemas conjugais que abalaram a banda antes da gravação do disco, evidente nas letras muito mais directas e mais maduras, marcadas pela tristeza, que parecem distanciadas das presentes nos discos anteriores, e que lhes dá uma ligação mais emocional, mais ainda assim mantendo o som “indie-rock” intacto.
Assim e tal como o sinistro titulo do álbum - que certamente poderá ter algo a ver com o seu homónimo de desagradável destruidor de bandas – estamos na presença de uma bela colecção de elegias a amores falhados, que abordam a amargura, a raiva, a reflexão, o perdão das mesmas, e onde as emoções são exploradas de uma forma real, sem nenhum traço de auto-piedade. O espectro “pop-rock” é amplo, e contempla o bonito apogeu de “A Man Like Me”, o “garage-pop” de “Landslide Baby”, a deprimente e lamentosa, “You’re Only King Once”, a deliciosamente discordante “Me and Jesus Don’t Talk Anymore”, a sincera “Don’t Forget To Breathe” ou a épica “Wipe Those Prints and Run”.
Impressionante a vários níveis, é uma receita sónica de “rock’n’roll” entregue com inteligência e sagacidade. E se nos anteriores registos as referências musicais eram os Beatles e os Big Star, agora são mais facilmente identificados com os Wilco de “Summerteeth” e “Yankee Hotel Foxtrot”.
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23 abril 2010

Pop # 12 - Kitchens Of Distinction

“Love Is Hell” (1989) (One Little Indian)

“Strange Free World” (1990) (One Little Indian)

Este trio londrino presenteou-nos com canções apaixonantes, inteligentes, honestas, bruscas e graciosas, recheadas de extáticas e intensas emoções, através da despretensiosa poesia de Patrick Fitzgerald, que detalhavam as fraquezas e os desaires dos relacionamentos que ele observava. A homosexualidade de Fitzgerald significa que as letras não se refugiavam na tradicional história “rapaz encontra rapariga”, mas ainda assim ressonavam com empatia, ternura e sensibilidade. Ao contrário de bandas como os Echo And The Bunnymen ou os The Chameleons, que tinham os seus incentivos nas trevas, os KOD usavam dinâmicas mais electrizantes como ponto de partida. Estas estavam assentes na fogosa voz e nas brilhantemente confessionais letras de Fitzgerald, na aterradora e voluta guitarra de Julian Swales, que produzia uma assombrosa quantidade de extraordinários sons gerados via uma extensa utilização de efeitos e na pulsante bateria de Dan Goodwin, que adicionava uma verdadeira musculatura e simultaneamente sustentava a estrutura das canções. Foram aglomerados na pletora de bandas “shoegazing”/”dream –pop” juntamente com os recém chegados Slowdive e Chapterhouse, o que trouxe comparações injustas e pouco sensatas, pois a sua música possuía muito mais alma, variedade e emoções genuínas (aquele turbilhão de guitarras de certo modo relembra uma música psicadélica bem enraizada). Tudo isto é extremamente visível nos seus dois primeiros álbuns. O brilhante “Love Is Hell” (1989), que inclui as indolentes rajadas de guitarra presentes em “In A Cave”, a efémera guitarra de “Time To Groan”, a simplesmente fabulosa “Prize”, e a eufórica “The 3rd Time We Opened The Capsule”. Evoluíram para algo verdadeiramente transcendente em “Strange Free World” (1990), que inclui a esplendorosa “Railwayed”, a poderosa “He Holds Her, He Needs Her”, a impiedosamente frenética “Drive That Fast” e a sublime “Quick As Rainbows”. Uma banda lamentavelmente esquecida, que nunca teve o reconhecimento que mereciam (provavelmente devido ao nome desajeitado, provavelmente devido pela obvia homosexualidade que assustou e afastou muitas pessoas), mas cuja dor era definitivamente o nosso prazer.
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Kitchens Of Distinction - The 3rd Time We Opened The Capsule
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Kitchens Of Distinction - Railwayed

15 fevereiro 2010

Pop # 11 - Richard Hawley - “Lowedges” (2003 Setanta)

Com o seu nariz a boxeur e com o aspecto de um “rocker” original dos anos 50, Hawley seria sempre uma improvável estrela.
É uma pena, pois este disco (tal como “Late Night Final”, mas com maior profundidade e coerência, ou o menos pessoal “Coles Corner”) é uma esplêndida e deliciosa obra-prima de ardentes e vibrantes canções intemporais, que demonstra o seu magnífico virtuosismo musical e um excelente instinto para a composição.
Prodigiosamente abre o disco com a ressonante, cismática, altaneira e no entanto particularmente épica “Run For Me” (o grande momento do disco a par com “You Don’t Miss Your Water”, “Darlin’” ou “Oh My Love”).
Aqui o seu voluptuoso trautear reminiscente de um Ian McCulloch ou Roy Orbison está mais precioso do que nunca (mas musicalmente está muito distante de ambos), e mesmo quando faz uma romântica serenata a sumptuosa sonoridade “retro-pop” implica trágicas e tristes despedidas. Cada palavra é sedativa, cada nota é cuidadosamente escolhida para levar o ouvinte em direcção ao delicado mundo de Hawley.
Agora esqueçam modernismos, não lhe peçam para ultrapassar certos limites musicais, esta grandiosamente emocional e assoladora música, soa como mais nada que foi criado nesta ultima década, simultaneamente e imediatamente moderno e retro.
A justaposição de serenas e dilacerantes melodias presentes em “Lowedges”, não é nada de novo, mas a sua invulgar excelência confirma Hawley como um sorumbático e esplendoroso cantor-compositor da mais elevada categoria.
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07 fevereiro 2010

Pop # 10 - The Go-Betweens- “Liberty Belle And The Black Diamond Express” (1986 Beggars Banquet)

O mais épico e mais romântico disco do quarteto Australiano, será provavelmente também o mais consistente de uma banda que ao longo da sua história discográfica nunca parou de impressionar. Pois, para além deste, poderia ter escolhido outro - “Before Hollywood”, “16 Lovers Lane” ou “Oceans Apart” – já que todos os seus álbuns são fantásticos, e estão recheados de belas e habilmente criadas canções, que relatam histórias de amores românticos e das suas irritadas rejeições.
Através das fantásticas letras de Grant McLennan e Robert Forster, apresentam-nos melancólicas e dolorosas meditações acerca do amor e as suas consequências. E estas surgem quer através da presunçosa indiferença de Robert Forster e os seus arrogantes relatos de intensas paixões, quer através do mais sério romantismo de Grant McLennan com as suas poéticas e sonhadoras composições.
Gravado com o produtor Richard Preston em Fulham na Inglaterra, está evidente que os nativos de Brisbane procuraram aqui uma sonoridade mais rústica, quase áspera, que lhe dá sensações ligeiramente únicas em relação aos seus outros discos.
Podemos destacar as discordantes guitarras e as declamatórias vozes de “Spring Rain”, a majestosa “The Wrong Road”, a perfeita capacidade de escrita evidenciada em “To Reach Me”, a subtil, no entanto dramática “Twin Layers Of Lightning”, o excelente “pop” presente em “Head Full Of Steam” ou as agravantes e desesperantes emoções de “Apology Accepted”. Mas a real força deste disco é a sua coesão global, pois tudo parece coexistir em perfeita sintonia. Todos os aspectos delicadamente reunidos como um puzzle, produzindo uma sonoridade perfeita e verdadeiramente única, e que por mais vezes que o escutemos, nos irá sempre produzir efeitos surpreendentes.
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13 janeiro 2010

Pop # 9 - Belle And Sebastian - “If You’re Feeling Sinister” (1996 Jeepster)

“If You’re Feeling Sinister” é, na minha opinião, onde encontramos o mais forte conjunto de canções alguma vez criado pelos Belle And Sebastian. Mais melancólico, complexo e sofisticado, do que por exemplo “The Boy With The Arab Strap”, aqui criam uma “pop” perfeitamente arrebatadora e melódica, maioritariamente assente em guitarras acústicas ou guitarras eléctricas límpidas.
Composto de formosas canções, que contam histórias únicas - às vezes opinativamente, às vezes introspectivamente – relatadas pela fantástica visão surreal da vida cotidiana que Stuart Murdoch têm.
As vozes suaves e a dócil música podem enganar, pois existe aqui pouca inocência. Ouçam atentamente as memoráveis letras, subtis e sarcásticas, impregnadas de um elevado (embora bem negro) sentido de humor.
Desde a épica, intemporal e fantasticamente cómica “The Stars of Track And Field”, passando pela espiral de piano presente em “Seeing Other People”, pelos gentis e alucinogénicos arranjos de “Like Dylan In The Movies” , pelo belo hino metafórico “The Fox In The Snow”, pela notável “Get Me Away From Here, I’m Dying”, pelo delicado e disciplinado dedilhar visível na extraordinária “If You’re Feeling Sinister”, até concluir com a distinta “Judy And The Dream Of Horses”.
O facto de serem originários de Glasgow, e descenderem de uma estirpe que remonta a bandas como The Pastels ou Orange Juice, ajuda a compreender as suas origens, mas também podemos visualizar a inigualável melancolia de um Nick Drake ou mesmo algumas influências dos Tindersticks.
E o melhor é que podemos escutar repetidamente o disco, e descobrir sempre algo novo, e são estas pequenas coisas inteligentes, perspicazes, poéticas que nos fazem sentir melhor.
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26 novembro 2009

Pop # 8 - Beachwood Sparks – “Once We Were Trees” (2001 Sub Pop)

Numa primeira abordagem este disco até poderá parecer fácil de descrever, mas escutando-o atentamente, constatamos que já não será assim.
É certo que similitudes serão sempre descortinadas, mas elas também não estão escondidas, pelo contrário, estão bem visível na sonoridade “West Coast” “country-pop” que incorpora o estilo sonoro saltitante de bandas como os The Byrds, os Love ou os The Flying Burrito Brothers - e cujas influências eles nunca negaram – e no facto dela ser intencionalmente sombria, reproduzida por processos e efeitos que utilizam variados métodos “vintage”. Mas neste disco também é visível o facto de explorarem ambiciosamente o alegre e puro psicadelismo mais em comum com os Pink Floyd de “A Saucerful Of Secrets”.
Eles soam verdadeiramente originais e desafiam uma categorização fácil. Produzem uma sonoridade aveludada, com óptimas mudanças rítmicas, magníficos arranjos orquestrais e harmonias fantásticas, assentes essencialmente nas estranhas vocalizações ondulantes, nas impetuosas guitarras e no espectral órgão.
Daí resultam canções incrivelmente contagiantes como “Confusion Is Nothing New”, “The Sun Surrounds Me”, “Let It Run”, “Your Selfish Ways”, ou a surpreendentemente soberba e palpitante versão de ”By Your Side”, original de Sade, que contém uma mensagem lírica que transmite ao ouvinte um sentimento de conforto e esperança, e que assim dá alguma serenidade ao tom carregado mais predominante ao longo deste disco complexo, que certamente se tornará num clássico intemporal.
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16 setembro 2009

Pop # 7 - Julian Cope – “Fried” (1984 Mercury)

Com “Fried, Julian Cope criou algo quase surrealista e verdadeiramente aventuroso. Recheado de alienação mental e bucolismo britânico, Cope ainda surge cambaleante do imenso turbilhão que foi o final dos The Teardrop Explodes (principalmente excessos de LSD e o colapso financeiro) e do falhanço do seu primeiro disco a solo, mas tentando não derrocar.
Os introspectivos conteúdos do disco mostram um indivíduo incrivelmente focado, e embora este seja ecléctico, é o invulgar ambiente de tristeza que mantém a coesão do mesmo, mesmo quando este parece estar a sucumbir.
Notáveis canções de pop psicadélico com surpreendentemente belas melodias, surgem entre um conjunto de esotéricos e impenetráveis exercícios acústicos audaciosamente reminiscentes do trabalho a solo de Syd Barrett.
Os resultados são sublimes, evidenciados nas galopantes e ásperas guitarras de “Reynard the Fox”, no gracioso “Bill Drummond Said” (e a sua trémula guitarra), nas acústicas “Me Singing” e “Laughing Boy”, incandescentes com espaço e melancolia (possivelmente influenciado por Tim Buckley), na bizarra explosão de melodia “Sunspots”, e as suas celestiais ondas de teclados, ou nas viciantes e contundentes guitarras de “The Bloody Assizes”.
Para além disso, esta é provavelmente a mais idiossincrásica capa de disco jamais imaginada - onde Cope prostra-se nu debaixo de uma gigante carapaça de tartaruga.
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18 junho 2009

Pop # 6 - Galaxie 500

“Today” (1988 Aurora)

“On Fire” (1989 Rough Trade)

“This Is Our Music” (1990 Rough Trade)

Aparentemente a ortodoxa combinação de guitarra, baixo e bateria do trio Galaxie 500 continha inapreensíveis e caprichosas qualidades.
As suas invulgares canções – especialmente no impressionante “On Fire” e no excelente “This Is Our Music” – são na sua essência simples e directas, mas eles entregaram os seus segredos lentamente.
A música era opaca, parcialmente devido à produção com rédea branda de Kramer, “fechando”as guitarras de Dean Wareham, repercutindo o seu queixume nasal e adicionando algumas ideias para os arranjos. E segundo o próprio grupo, apesar de Kramer fumar quantidades épicas de marijuana, os efeitos são subtis e em certos momentos subliminais.
A forma como estes três colegas de escola tocavam tinha uma inquietante e surrealista sensação de sempre pairar no ar, com as canções a desfraldarem-se de uma forma linear, mas em vagas, onde o contraste entre a voz desastrada e desafinada de Wareham e a voz flutuante e etérea de Naomi, acrescentava profundidade e equilíbrio. Aqui a guitarra caótica e retumbante de Wareham – com um pendor ocasionalmente vibrante e inflamado numa feroz e intensa erupção eléctrica, profundamente influenciado pelos Velvet Underground – encontrou contraponto no ponderado, cuidadoso baixo de Naomi Yang e na ondulante bateria de Damon Krukowski. “This Is Our Music” exemplifica este confronto, especialmente em “Fourth Of July” e na incandescente versão de “Listen, The Snow Is Falling”, original de Yoko Ono.
O seu disco de estreia, o amargo e romântico “Today” é mais experimental em comparação com os seguintes, mas ainda possui a sua quota de preciosidades - como a sensual e poderosa “Tugboat”, a dócil no entanto assombrosa “Flowers”, ou It’s Getting Late”.
“On Fire” demonstrou a sua crescente competência técnica, possibilitando uma sonoridade mais hermética e é estruturalmente mais possante e o mais unificado, recheado de canções consistentemente calmantes e harmoniosas, exemplificando o que fazem melhor na trágica “Blue Thunder” (uma das mais emotivas e corajosas canções que já ouvi), no sentimento proscrito de “Strange”, no turbilhão de “Snowstorm”, na beleza de “Another Day”, e na perfeita reconstrução do original de George Harrison, “Isn’t It A Pity”
“This Is Our Music” é um luxuriante épico onde guitarras acústicas e eléctricas rodopiam numa magnificente bruma, recheado de canções brilhantes e incomparáveis, como a incrível “Fourth Of July” (provavelmente a mais forte dos G500), a surreal “Hearing Voices” ou a soberba “Summetime”. A edição em CD inclui ainda a deliciosa “Here She Comes Now” (original dos Velvets).
Em 1991 durante uma tourneé completa pelos Estados Unidos e Europa suportando os Cocteau Twins, separaram-se em amargas circunstâncias: Wareham formou os Luna, os quais ele avalia como mais importantes, e Krukowski e Yang tornaram-se primeiro em Damon & Naomi e posteriormente nos Magic Hour. Desde essa altura, todos eles produziram muito boa música, mas estes discos revelam os Galaxie 500 como um dos grupos mais enigmáticos de tempos recentes.
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13 março 2009

Pop # 5 - Aimee Mann - “Lost In Space” (2002 SuperEgo Records)

Ainda bem que Aimee Mann teve problemas com a editora multinacional onde estava, pois a pressão que esta exerceu sobre Aimee, para que editasse um disco mais comercial, resultou num acordo que lhe deu a sua independência. Essa liberdade fez com que a ex-‘Til Tuesday renascesse e regressasse, já na sua própria editora, mais consistente como compositora e como executante. Primeiro com “Bachelor No.2“ (também um disco notável) e depois com este “Lost In Space”, onde nos oferece mais uma viagem muito pessoal, por um mundo onde as personagens alienadas da sociedade tentam encontrar o seu lugar nesse mundo, muitas vezes com consequências devastadoras.
As letras são incrivelmente mordazes e cheias de significado, onde as forças condutoras são ressentimento, frustração e desespero, resultando num sombrio ambiente que percorre o disco.
A voz profundamente nasal de Mann condiz perfeitamente com as letras causticas, que pronunciam exactamente aquilo em que pensamos, mas que muitas vezes temos dificuldade em expressar.
Aqui existe uma mescla de vários géneros musicais que são elevados para novos patamares, criando uma sonoridade muito própria – distinta, rica e celestial.
Tal como “Yankee Hotel Foxtrot” dos Wilco, não existem aqui “singles” óbvios pois o disco funciona como um todo, no entanto, no entanto neste excelente conjunto de canções, articuladas e inteligentes, destacam-se algumas pela sua perfeição - as àsperas “This Is How It Goes”, “Invisible Ink”, as soberbas “Humpty Dumpty” e “Pavlov’s Bell”, a genial “The Moth”, “Real Bad News” e “Guys Like Me”.
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22 novembro 2008

Pop # 4 - Aztec Camera - “High Land, Hard Rain” (1983 Rough Trade)

Precisamente, em Janeiro de 1980, um miúdo, Roddy Frame, fundava os Aztec Camera. Estes gravitariam sempre à volta das suas visões muito especiais e da sua qualidade de composição.
A inovadora e complicada miscelânea de “pop”, “rock”, “jazz”, “folk”, que caracterizava o som dos Aztec Camera, faz com que o grupo chame a atenção da jovem independente editora Postcard, que edita os seus primeiros dois singles. O percurso iria prosseguir na Rough Trade, que edita os singles seguintes, “Pillar To Post” e “Oblivious”. Ambos atingem os topos das tabelas “indie” e tornam-se numa das melhores promessas da “pop” escocesa.
Tudo isto fez com que a expectativa que rodeava o seu disco de estreia fosse enorme. E “High Land Hard Rain” não iria desiludir ninguém.
Uma exalação de ar fresco aquando da sua edição (uma terrível altura para a “pop”), era musicalmente vibrante e extremamente único, para além de ser incrivelmente super-produzido para o período (penso que só “Skylarking” dos XTC poderá ser alvo de comparação).
As canções eram ricas em melodia, baseadas em deslumbrantes arranjos e texturas vocais, apoiadas nas assombrosas letras, extremamente comoventes, que expunham sem enfeites as ansiedades da juventude (“The Boy Wonders” é um belo exemplo).
A isto acrescenta-se a capacidade inata de Roddy Frame na guitarra e um puro e total entusiasmo que faltava a muitas bandas.
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15 setembro 2008

Pop # 3 - Orange Juice - “You Can’t Hide Your Love Forever” (1982 Polydor)

Depois de um conjunto de singles para a Postcard, os Orange Juice até já tinham gravado o seu primeiro álbum - “Ostrich Churchyard” - quando assinaram pela multinacional Polydor, mas regressaram ao estúdio com o produtor Adam Kidron, alterando o som mais “garage-rock” do primeiro pelo cintilante “indie-pop” deste. Aqui presentearam-nos com um conjunto de canções cativantes e excitantes, cheias de dilacerantemente belas melodias, que se elevam e exercem o seu poder. Apoiados no crepitar zumbido das inarmónicas guitarras, superiormente lideradas por Malcolm Ross (que tinha abandonado os Josef K), na vibrante batida da bateria de Zeke Manyika e essencialmente em Edwyn Collins com a sua rígida e fora de timbre voz, num estilo inimitável, idiossincrático e unicamente sincero, produziram um som altamente original, por polir, espontâneo, que pegou na intensidade do “punk” e o seu grande idealismo e faculdade de diversão, e fundiu-a com uma romântica sensibilidade lírica e muita alma. Como influências apontam-se várias, Velvet Underground, The Byrds, The Buzzcocks, Television – e também são referenciados como precedentes da similar sonoridade desenvolvida pelos The Smiths (e como obvia influência no som de Stuart Murdoch e dos seus Belle & Sebastian). E só um grande compositor como Edwyn Collins, com as suas letras obliteráveis, tal como Morrissey, visionário, deprimido e levemente cínico, mas inteligente, honesto e credível, poderia abordar as fraquezas do amor e a sua falta de direcção, e criar a pletora de clássicos com a excelência de “Falling and Laughing”, “Satellite City”, “Consolation Prize”, “Untitled Melody” ou a icónica “Felicity”.
Edwyn Collins gravaria posteriormente bons discos, mas foi aqui que revelou o seu génio. Um disco de instantânea e ditosa alegria.
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Orange Juice - Felicity

26 maio 2008

Pop # 2 - Mazzy Star - “She Hangs Brightly” (1990 Capitol)

“So Tonight That I Might See” ou “Among My Swan” podem ser mais consistentes, mas é “She Hangs Brightly”- provavelmente por ser o primeiro - que melhores recordações me trás dos Mazzy Star.
Criaram um som “blues” desejoso e frágil, com uma atenção especial nos detalhes, que muitos classificam como “pop-psicadelico”.
A guitarra eléctrica ou acústica de David Roback (ex-Rain Parade, Opal), está sempre presente, sinistra e escondida atrás da voz de Hope Sandoval, em espiral e a rugir constantemente, ou alternativamente adicionando um som mais orgânico.
Já a prestação de Hope com a sua suave, transparente e infantil voz, é arrebatadora. É serena e emocionalmente incómoda ao mesmo tempo.
Seja na assombrosa “She Hangs Brightly”, é que uma experiência de meandros psicadélicos. Seja em canções como “Halah”, “Give You My Lovin’” e “Be My Angel”, que são excelentes momentos de “amor e desespero”, capturando o estado de espírito de desejo, ânsia e desespero. Seja no distante e misterioso “Taste of Blood”, ou no arrepiante “Ghost Highway”, que tal como no exuberante “riff” de guitarra de “Blue Flower, já demonstram uma inclinação mais “rock”.
Sempre uma agradável lembrança.

18 abril 2008

Pop # 1 - Matthew Sweet – “Girlfriend” (1991 Zoo)

Era uma vez um miúdo fanático pelos Big Star e que desde muito novo trocou correspondência com Michael Stipe e Mitch Easter, Sweet mal acabou o liceu mudou-se para Athens, na Geórgia, onde se juntou à irmã de Stipe nos Oh-OK. Cedo assinou como artista a solo por uma editora, mas os seus dois primeiros discos soavam extremamente datados.
Mas com “Girlfriend”, Sweet, deu o passo, que anteriormente faltou. Dois factores foram fundamentais para que isso se concretizasse. O primeiro resulta da inspiração proveniente do seu tumultuoso casamento e também por uma recente inundação que lhe destruiu a casa. A segunda é o sublime contributo prestado por dois veteranos guitarristas - Richard Lloyd (dos Television) e especialmente Robert Quine (dos Richard Hell & The Voidoids, e colaborador de Lou Reed ou Tom Waits, entre outros) - que aqui estão super-inspirados, verdadeiramente em “chamas” durante todas as melodiosas e harmoniosas canções
O disco está recheado de brilhantes momentos de habilidade “pop”. Canções alegres como “I’ve Been Waiting” e “Evangeline”, assim como a lamentosa “Winona” e a sombria “Divine Inspiration” soam tão emotivas, arrebatadoras e genuínas como os discos dos R.E.M. e dos Game Theory que originalmente inspiraram Sweet.
Foi um dos melhores discos de “powerpop” dos anos 90 (juntar Teenage Fanclub e Posies), e que ainda hoje permanece vibrante e estimulante.