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07 outubro 2010

Rock # 17 - Hüsker Dü – “New Day Rising” (1985 SST)

Dos vários “clássicos” editados pelo Hüsker Dü, “New Day Rising” é uma excelente afirmação de intenção e será provavelmente o melhor da sua carreira.
Literalmente esmagador, ele recomeça onde “Zen Arcade” acabou e simplesmente dispara, capturando a banda numa fase onde eles se encontravam a passar do veloz “hardcore” dos discos anteriores para a sonoridade mais melódica dos álbuns que se seguiram. A velocidade das canções é ligeiramente inferior, mas a intensidade do fluxo nunca cessa.
A capacidade conjunta de composição de Grant Hart (provavelmente melhor em “Flip Your Wig”) e Bob Mould nunca funcionou tão bem como aqui, onde o perverso sentido de humor de Hart surge como um contraponto mais ensolarado às escuras e torturadas obsessões de Mould. Tal como os Velvet Underground nos anos 60, eles estavam a re-escrever as regras do “rock” e “pop” mas também do “hardcore” e “punk” de um só golpe.
O disco está recheado de grandes canções, sempre carregadas de emoções, onde a guitarra de Mould é nitidamente ameaçadora e implacável, a bateria de Hart é quase “jazzística”, de fluxo livre e a dirigir velozmente e sem fôlego as canções para a frente e com o baixista Greg Norton a colar as coisas com subtis ganchos melódicos.
Desde a selvagem, incendiária “New Day Rising”, passando pelo brilhante épico “Celebrated Summer”, pela explosiva “I Apologize”, pela vigorosa “Terms of Psychic Warfare”, pela política “Folklore”, pela “trashy” “Punch Drunk”, pela melancólica “Girl Who Lives On Heaven Hill”, pela excelente “Books About UFO’s” até chegarmos ao colapso sonoro de “Plans I Make”, este registo ficará para sempre como uma das indiscutíveis referências do “rock alternativo” americano dos anos 80.
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28 setembro 2009

Covers # 11 - Jon Auer - “6 1/2” (2001 Pattern 25)

Fico sempre desconfiado com os supostos discos de “versões”, pois na maioria das vezes, nem sempre conseguem entender, nem igualar a intenção das mesmas, e ficam muitas aquém das expectativas criadas. Felizmente neste caso, a mestria como Jon Auer reinventa radicalmente os originais, apropriando-se dos mesmos e moldando-os ao seu estilo faz o disco funcionar na perfeição.
Não sei se na altura da sua edição, este disco funcionou como uma resposta ao excelente disco a solo – “Touched” - que Ken Springfellow editou no mesmo ano, mas o outro Posie apresentou-nos esta pequena maravilha de seis versões e meia (daí o titulo). Pois para além do exercício experimental que é o tributo a “Bonnie & Clyde” de Serge Gainsbourg, temos versões dos The Chameleons, dos Swervedriver, dos Ween, dos Hüsker Dü, dos Psychedelic Furs, e até de Madonna. E se a escolha dos temas é fantástica, os resultados são surpreendentes. As canções contêm o característico estilo rancoroso de Auer e evocam o “pop” delicioso que caracterizava os The Posies.
E realmente o único pecado deste disco é ser tão pequeno.
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04 maio 2009

Rock # 8 - The Replacements – “Let It Be” (1984 Twin/Tone)

Nomear um disco com o mesmo título com que os Beatles nomearam um dos seus, pode ser um pau de dois bicos. Felizmente estes quatro rapazes de Minneapolis (e companheiros de estrada dos Hüsker Dü) criaram um disco extremamente consistente que em nada envergonha o do quarteto de Liverpool.
Em grande parte devido aos incríveis talentos naturais de Bob Stinson e Paul Westerberg – que até podiam aproximar-se em “talento bruto” de Lennon & McCartney - foram das melhores bandas surgidas no início da década de 80 a exprimirem a sua revoltada angustia através da música – um incontornável “pop-trash” malandro. Agrupadas no movimento “punk/alternative rock” americano (apesar da sua sonoridade incluir elementos de “hard rock”, “country” ou até de música psicadélica), situavam-se num patamar muito superior à maioria dos grupos desse movimento.
A excelente capacidade de composição de Paul Westerberg surge no seu estimável melhor em “I Will Dare” e “Androgynous” – onde mistura pura poesia com uma porção de humor.
Destacam-se ainda a revolta de “We’re Coming Out”, a desilusão da adolescência intencionalmente mordaz de “Sixteen Blue”, o “punk” puro de “Gary’s Got A Boner”, a provavelmente auto-biográfica “Unsatisfied”, ou a torturada canção de amor “Answering Machine”. E se “Black Diamond” poderia ser a mais obscuras da versões visto ser um original dos Kiss, quem entende a banda percebe que encaixa perfeitamente e é bem melhor que o original.Um clássico da década e um dos mais importantes discos do “rock alternativo” americano.
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18 março 2009

Rock # 6 - Dinosaur Jr.- “You’re Living All Over Me” (1987 SST) / “Bug” (1988 SST)

Apesar de nunca terem tido a importância histórica de uns Pixies ou Sonic Youth, ou mesmo de uns Hüsker Dü ou Big Black, foi por aqui, via The Stooges e o “punk-hardcore” que se começou a desenvolver o caminho que iria levar aos Nirvana. É aqui que encontramos as raízes do grunge e do “lo-fi”.
O trio de Amherst composto por J. Mascis, Lou Barlow e Murph, foram uma explosão de energia, resultado da acção combinada entre a vitalidade e a tensão da química interna produzida pelo grupo liderada por J Mascis, um proto-Cobain que escreveu importantes capítulos na história da guitarra eléctrica. Ousadamente tornaram OK criarem “jams” e aplicarem extensos solos no essencialmente leal movimento “punk-indie”, totalmente desprovido de qualquer enfeite musical.
No inigualável “You’re Living All Over Me”, as canções são concisas e sinceras, onde os dotes e a presença de Mascis são colossais, pela intensidade emocional que coloca nos seus solos de guitarra, complementado por um grande trabalho de Barlow no baixo, uma mistura de melodia e distorção.
Brilhante desde o distinto e contagiantemente louco “feedback” de “Little Fury Things”, passando pela segura “The Lung”, pelo agradável “noise” de “Tarpit”, pela forma como as pesadas guitarras de “Raisans” e a insana “Sludgefeast” envenenam o ouvinte com o seu poder, até chegarmos a “Lose” e à assombrosa “Poledo”, ambas escritas por Barlow (cujas sonoridade relembram mais as desenvolvidas posteriormente no seu trabalho com os Sebadoh).
Em “Bug” o som está mais ordenado e estruturado, mas a banda estava prestes a explodir em conflitos internos. No entanto as acções combinadas mantêm-se num nível elevadíssimo, onde a dinâmica “soft/hard” é um padrão que iguala a atitude de Mascis, que alterna entre delicadeza e desejo e um mortal desencantamento, bem reflectida no ocioso e suavemente distorcido “garage.rock” de “Freak Scene” (a “marca registada” era resmungar vagarosamente vocalizações “folk” e rápidos, ásperos “riffs” e depois derramar ardentes solos de guitarra). Destacam-se ainda o dilacerantemente belo solo de “No Bones”, o reprimido “trashing” de “Pond Song” (que relembra Neil Young na fase “Rust Never Sleeps”), a directa “Budge”, e os enormes e patetas “riffs” de “Yeah We Know”.
Dois discos de prazer intenso misturado com sofrimento intenso.
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19 novembro 2007

Inovadores # 4 - Wire – 1977-1979

“Pink Flag” (1977 Harvest)
“Chairs Missing” (1978 Harvest)
“154” (1979 Harvest)



Ainda em actividade, devido a inúmeras reformações, os Wire são muitas vezes referenciados como um dos grupos mais importantes dos 70 e 80, devido à sua reputação pelas experimentações sonoras.
O período entre 1977 e 1979 será recordado como o mais interessante e criativo.
Nos seus três primeiros discos expandiram as fronteiras sonoras, não só do “punk”, mas do “rock” em geral.
Existiu uma constante evolução sonora, desde o estilo áspero de “Pink Flag” (1977), até ao som mais complexo e estruturado de “Chairs Missing” (1978) e “154” (1979).
Devido ao seu amplamente detalhado e atmosférico som, às letras de cariz político, e a abordagem de temas obscuros, foram catalogados com o “post-punk”.
Superficialmente “Pink Flag”, é um disco “punk”, mas pegou no minimalismo do “punk”, e transportou-o para outro patamar, criando um som puro e concentrado.
Todas as canções são curtas e directas, mas que nos deixam sem alento. “12XU”, “Lowdown”, “Three Girl Rhumba” possuem “riffs” sedutores, enérgicos e monocórdicos.
“Chairs Missing” distancia-se do disco de estreia, ao introduzirem teclados e efeitos sonoros, e por possuir composições mais longas, menos “punk” e musicalmente mais rebuscadas. Destaco “Outdoor Miner”, a hilariante “I Am The Fly”, mas também a épica “Mercy”.
“154” é ainda mais diferente dos anteriores, mais produzido, e ainda mais pensativo. Como se fosse uma versão mais lúcida e elaborada de “Pink Flag”. Nas favoritas incluem-se as contagiantes melodias de “The 15th” “Map Ref. 41N, 93W” e “A Touching Display”.
É notável como ainda hoje estes álbuns se mantém tonificantes e fundamentais.
E tiveram uma enorme influência nas décadas seguintes, ao serem referenciados por bandas tão distintas como R.E.M., Hüsker Dü. ou Minor Threat, entre outros.

26 junho 2007

Inovadores # 2 - Minutemen – “Double Nickels On The Dime” (1984 SST)

No início dos anos 80 as bandas da SST sentiam um salutar sentido competitivo, o que tornou possível que quando os Hüsker Dü gravaram o duplo “Zen Arcade”, este trio de californianos pensaram que também deveriam fazer um disco duplo. E o resultado são 45 canções (43 na reedição em CD), de paixão e clareza.
O disco representa os Minutemen e a sua atitude perante a música, a política e a vida.
Desafiando todas as convenções musicais com a sua atitude e experimentação, encontra-mos de tudo neste disco: rock, punk, jazz, folk, funk, blues, country, psicadelismo, spoken-word, e versões dos Creedence Clearwater Revival, Steely Dan ou Van Halen (só no vinil), mas contrariamente à maioria dos grupos punk que realizavam versões irónicas dos artistas que desprezavam, os Minutemen gostavam dos grupos que revestiram.
D. Boon através de confidentes e assertivas vocalizações ultrapassava as suas imperfeições. Não sendo um grande guitarrista, a sua técnica era baseada no “treble”. Mike Watt era/é um dos melhores baixistas de sempre, com o seu estilo jazzy. Com ele o baixo parece que ganha vida. E o baterista George Hurley conseguia fazer sons notáveis com um pequeno “drumkit”. Os Minutemen tinham nas suas fileiras três dotados músicos, que excediam a maioria das bandas punk da altura. Adicionando um “condimento” jazz-funk, criaram um som único.
Como exemplo vejam a forma como em cinco minutos, os Minutemen, passam do funk de “Viet Nam”, pela introspectiva guitarra acústica de “Cohesion”, até aos “drum breaks” de “It’s Expected I’m Gone”.
Cheio de grandes canções na maioria inferiores aos 2 minutos, destacam-se o punk-pistoleiro de “Corona”, o hipnótico “Jesus and Tequila”, essa falsa semi-balada que é “History Lesson-Part II”, e o funky “Anxious Mofo”.
Duas decádas após a sua edição, a sua influência ainda é palpável no trabalho de bandas como os Red Hot Chili Peppers, musicalmente, e os Wilco liricamente/politicamente.
Um marco absoluto no domínio rock alternativo.