06 março 2009

Classic # 18 - Love – “Forever Changes” (1967 Elektra)

Um dos mais perfeitos discos alguma vez registados, impressiona-me pelos exuberantes arranjos, pelas estruturas acústicas e pelo tom melancólico. E apesar de parcialmente soar como um produto do seu tempo, o disco é extremamente sofisticado musicalmente. Está repleto de instrumentos, de excelentes sinfónicas orquestrações (por David Angel), de sumptuosas harmonias vocais, de distintas melodias, de uma atmosfera sombria e uma grande produção de Bruce Botnick e Lee. Apesar de baseados em Los Angeles, a sua sonoridade não tinha nada a ver com contemporâneos como The Doors, pois a sua música envolve vários estilos, como “folk” e “jazz” o que a torna difícil de catalogar. Por essa altura Lee tornou-se incrivelmente fatalista, convencido que iria morrer e que este seria o seu último testamento, e sabendo que não conseguia competir com a energia eléctrica do seu amigo Jimi Hendrix, Lee decidiu investir num som mais introspectivo.
Tal como a fantástica capa do disco, é um disco cheio de vida, uma rodopiante colecção de cores, estados de espírito e emoções. E alguém pode duvidar disso depois de ouvir o primeiro tema - “Alone Again Or” – começa com a sua contagiante e serena guitarra acústica para depois inesperadamente surpreender-nos com o majestoso e hábil solo de trompete. E o que parece ser uma canção de amor transforma-se numa noção “hippie” em que o narrador proclama “could be in love with almost everyone”.
Os temas são interpretados de uma forma triste, (a paranóia e a morte misturam com temas mais animados) mas nunca oprimida, e ao longo do disco existe uma vivacidade até nas canções mais delicadas como na visão apocalíptica de “Andmoreagain” ou “The Good Humor Man He Sees Everything Like This”. Mesmo nas canções mais “rock”, na propulsiva “A House In Not A Motel” ou na realista “Live And Let Live” o tom é subjugado e a ira é controlada. As visionárias “Maybe The People Would Be The Times Or Between Clark and Hillsdale” e “You Set The Scene” são autênticos postais da era - o verão do amor, cínico e desesperante, formoso e imponente – onde na última tão bem se reflecte a realidade nos seus momentos de solidão e optimismo existencial.
Arthur Lee é um dos mais sobrestimados compositores de todos os tempos, e esta primeira incarnação dos Love foi a melhor pelo seu incompatível convívio com Bryan Maclean.
Indescritivelmente essencial.
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5 comentários:

Anónimo disse...

parabéns pelo blog! gostava de entrar em contacto contigo, mas não encontrei nenhum contacto no perfil... como fazer?

susana

prozac disse...

Um dos meus discos favoritos all time :)
abraço
JP

Shumway disse...

Susana: podes-me contactar através deste email: ma_melo@yahoo.co.uk

O Puto disse...

Um disco genial! Conheci-o em pleno há relativamente pouco tempo, mas rendi-me, claro.
Aproveito para te informar que estarei numa sessão musical com um amigo no Rendez Vous (Rua Cândido dos Reis), na próxima sexta. Abraço!

strange quark disse...

Um dos clássicos com C grande, que também já conheci tarde, mas antes isso do que nunca!