16 fevereiro 2007

New Rave – A cultura rave de regresso – Don’t Believe the Hype?

1. Segundo vários jornalistas ingleses, a cultura rave está de regresso.
Como é normal nestes tempos de nostalgia, as tendências culturas tem um ciclo de 20 anos, senão vejamos: o psicadelismo nos anos 80, o grunge nos anos 90, o electroclash e o pós-punk já nesta década. A cultura rave está de regresso, mesmo na altura em que se prepara a comemoração dos 20 anos do “Second Summer of Love”, que decorreu em Inglaterra no ano de 1988.
Tudo terá começado no último trimestre do ano passado, com o aparecimento dos Klaxons, que auto-intitularam a sua música de “new rave”. O facto de efectuarem uma versão de um clássico rave hardcore (“The Bouncer”dos Kick like a Mule) desse período reforçou essa ideia, e ao juntarem sintetizadores e caixa de ritmos, ao tradicional som rock’n’roll (guitarra, bateria, gritaria, muita gritaria) ajudaram a imprensa a catalogar esta nova tendência. Os singles que editaram, “Atlantis to Interzone”, “Gravity’s Rainbow”, e “Magick”, foram todos sucessos.
O “indie-rock” nunca se deixou ir em modas, a pureza do conceito “indie” é a principal razão para o conceito ainda se manter. Mas o facto é que muitos “indies”, nestes últimos meses, estão a ouvir cada vez mais música de dança, devido a bandas “electro-rockers” como os Justice, Soulwax, MSTRKRFT, Digitalism ou Errol Alkan, principalmente pelas remisturas efectuadas para bandas “indie”, mais do que pelas suas próprias composições.
Se a “new rave” é mais uma reincarnação da chamada “indie-dance”, teremos que aguardar. Mas a mudança visual já acontece, como é norma, basta observar os Klaxons como porta-estandartes.
Mas para mim, como sempre nas modas, o mais interessante será sempre a maneira como, neste caso, a cultura rave será reexaminada, por uma geração muito nova para a ter vivido da primeira vez.

2. Também na Alemanha, a cultura rave está novamente na mó de cima, como consequência nostálgica da relação do país com a música “techno”, “trance”, e as famosas festas “raves” que marcaram a viragem dos anos 80 para os 90.
Mas ao contrário de Inglaterra, o fenómeno é diferente e curioso. Os alemães nunca afastaram definitivamente a cultura “rave”, pois sempre esteve omnipresente. Como exemplo temos o que está a acontecer com o colectivo “Rave Strikes Back”, que inclui DJ´s como Michael Mayer ou Miss Kittin, que ao elaborar o seu Top de temas “rave”, inclui os nomes clássicos como Prodigy, Joey Beltram, Speedy J, Energy 52, entre outros. Mas não deixa de ser curioso e fascinante constatar que também estão incluídos temas dos Kraftwerk, The Human League, Grace Jones, Depeche Mode, Joy Division e até os Sonic Youth. Isto vem constatar a máxima de que para uma festa correr bem, o que o público quer ouvir é que interessa. Um objectivo idealístico deste colectivo é redistribuir a atenção desde o DJ para a festa.
http://www.rave-strikes-back.de/

14 fevereiro 2007

My Favorites # 2 - Spacemen 3 – “Recurring” (1991 Fire)

A união de duas almas gémeas nascidas no mesmo dia do mesmo ano (Pete "Sonic Boom" Kember e Jason Pierce) criou uma das bandas mais incompreendidas pela crítica, quer pelo facto de nunca terem compreendido a sua música, quer pelo facto da banda nunca ter escondido o seu excessivo consumo de drogas duras. Apesar disso os Spacemen 3 rapidamente ganharam uma legião de fãs.
Os Spacemen 3 caracterizavam-se por um som psicadélico, minimal, harmonias distorcidas ao limite, baseadas em guitarras e sintetizadores.
Claramente “Playing with Fire” (1989 Fire) é o grande disco dos Spacemen 3, mas “Recurring” sempre me fascinou pelo cocktail de influências que a sua audição me proporciona.
“Recurring foi gravado numa altura em que os 2 "génios" não se falavam, ficando o lado 1 com as gravações de Boom, e o lado 2 com as de Pierce. Mas o facto é que o disco funciona perfeitamente desta forma.
As composições de Boom são mais horizontais, com um ritmo hipnótico constante do princípio ao fim dos temas. “Big City” é um hino à cultura rave, com o seu ritmo “electro”, só que não dançamos, flutuamos.
“Set me Free”/”I´ve got the Key” é psicadelismo puro, os efeitos sonoros envolvem-nos como uma nuvem.
O som de Pierce é mais lírico, construindo as canções em clímaxes. “Sometimes” é um exemplo típico.
“Feel So Sad” é a pérola deste disco, um “blues” melancólico, com um a voz fantasmagórica. “Feelin’ Just Fine (Head Full of Shit)” não podia ser mais explícita, a nossa cabeça é submetida ao acumular de efeitos sonoros.

O resultado final é um disco envolvente, sem um elevado grau de sofisticação, mas surpreendente comovente.

09 fevereiro 2007

4 Hero - Play With The Changes (2007 Raw Canvas)

Este disco não pode passar a lado…
Não é tão inovador como trabalhos anteriores (já não será necessário), mas mantém os mesmos padrões de qualidade, que os 4 Hero nos habituaram, seguindo a sofisticada trajectória musical que caracteriza o seu som.
É mais um disco onde a dualidade das influências entre o tecno underground e a soul clássica, faz da música uma experiência única, uma síntese do passado e futuro.
Estamos perante um disco complexo, mas rico em texturas musicais. Os frágeis “beats” fundem-se com divagações orquestrais. Os arranjos de cordas misturam-se com uma electrónica desajustada. Conta com um lote de vocalistas de superior qualidade, como seria de esperar, incluindo Carina Anderson (que tinha participado no fantástico “Les Fleur”), a poetisa Ursula Rucker, a lendária Jody Watley (ex-Shalamar), e a participação especial dessa lenda do “jazz-funk” que é Larry Mizell (trabalhou com os Jackson 5 e Marvin Gaye, entre outros).
O amor pela música negra e pela inovação tecnológica, resulta nesta alquimia que nos trouxe discos que são marcos na história da música de dança. Desde o lançamento do clássico “rave” “Mr Kirk´s Nightmare”, passando pela criação da Reinforced Records, pioneira do “drum& bass” , responsável pelo lançamento de Goldie, Doc Scott, Photek, e pelos trabalhos de remistura realizados (recomenda-se a remistura para “Black Gold Of the Sun” dos Nu Yorican Soul). Isto para nem referir o seus álbuns “Parallel Universe” (94), “Two Pages” (98) e “Creating Patterns" (2001).
A sua música sempre teve um significado muito mais importante do que a pista de dança.
No conjunto um grande disco, refrescante e positivo.

07 fevereiro 2007

Field Music - "Tones of Town" (2007 Memphis Industries)

Segundo disco deste trio de Sunderland, composto por David Brewis, Peter Brewis e Andrew Moore, compatriotas e amigos dos Futureheads. Ainda menos convencional do que o seu disco de estreia, estamos perante um cenário onde melodias encantadoras, inundadas de excelentes harmonias vocais, constituem estruturas pop experimentais que ao longo do disco procuram novos rumos, surpreendendo e ao mesmo tempo, apreendendo a atenção do ouvinte, com a abrangência de influências.
Temas como o elaborado “Give It Lose It Take It”, “Sit Tight”, com aquele baixo distorcido, “A Gap Has Appeared”, ou o “drum loop” que abre “In Context”, provam que os Field Music não se limitam ao mero “pop” convencional.
Música complexa, mas encantadora.

01 fevereiro 2007

Howe Gelb – “’Sno Angel…Like You” (2006 Thrill Jockey)

Vamos esquecer Giant Sand, Band Of Blacky Ranchette, Friends Of Dean Martinez, OP8, etc.
O concerto que trouxe Gelb a Portugal serve para promover o seu último disco “’Sno Angel…Like You”.
E neste trabalho, o músico do Arizona juntou-se ao grupo Canadiano Praise Gospel Choir, segundo o mesmo para misturar a elegia do gospel com à sujidade das guitarras eléctricas.
O mais curioso é como esta combinação improvável, resulta na perfeição. A voz monocórdica de Gelb encaixa perfeitamente nas doces harmonias do coro, parece óbvio que só poderia ser assim.
São 14 canções – versões dos Giant Sand e Rainer Ptacek e oito originais – que misturam soul, blues, rock e folk. Desde as mais “rockeiras” “Howlin’ A Gale” ou “The Farm, à introspectiva “Hey Man”, canções ideais para ouvir num dia menos bom.
Nunca a música de Gelb esteve tão madura e tão alegre.