Se “Taking Tiger Mountain” (o seu disco anterior), era largamente um maior desdobramento dos temas de maior sucesso encontrados no seu primeiro disco a solo (“Here Come The Warm Jets”), “Another Green World” é uma declaração de independência artística, que nada deve aos seus antecessores. Eno extraiu muita energia e confiança das suas bem sucedidas colaborações com músicos como John Cale, Phil Manzanera e particularmente Robert Wyatt. A aparentemente fragmentária construção de “Another Green World” recordava o último de Wyatt, “Ruth Is Stranger Than Richard”. Os dois discos têm uma qualidade aventureira, e um sentimento de espontaneidade e imprevisivilidade.
A intenção de Eno para este disco era dispensar a disciplina tradicional de gravação e de criar em estúdio um ambiente que iria precipitar, através de ideias e propostas acidentais, a concepção e captura de estratégias oblíquas num processo que não tivesse um objectivo específico ou predeterminado. A música resultante é o resultado da interacção entre várias combinações de oito músicos totalmente complacentes com a experimentação. E se o imprevisível sempre foi adoptado por Eno como uma fonte viável de informação e inspiração, aqui a proeza, é a sua habilidade de orquestrar os diferentes estados e atmosferas produzidas ao longo da construção do disco de forma a submeter os estilos e as texturas sonoras numa única dimensão.
A maior parte do disco possui uma extraordinária e incandescente beleza que ocasionalmente dá lugar a uma mais sombria e sobrenatural tranquilidade. “St.Elmo’s Fire” é uma brilhante ilustração da primeira qualidade: abre com uma complexa matriz rítmica dispersa através dos altifalantes seguida pela voz de Eno à deriva pelo meio de um bruma de subtis enfeites de teclados. A guitarra de Robert Fripp subitamente surge numa brilhante cascata de som, delicadamente realçando o tom predominante da canção com enorme destreza. Este tema está em directo contraste, com a compulsiva cadência rítmica de “Sky Saw” e “Over Fire Island”, que também contêm a claridade glacial que caracteriza “Becalmed” e a excepcional sequência final, “Spirits Drifting” - a brilhante perfeição desta composição é arrepiante. “Golden Hours”, “Zawinul/Lava” e “Everything Merges With The Night” confiam no inegável efeito da pouca complexidade. E assim, o disco, como um todo, é marcado por uma surpreendente frugalidade e uma refrescante ausência da dispensável decoração auricular.
Altamente recomendado.
A intenção de Eno para este disco era dispensar a disciplina tradicional de gravação e de criar em estúdio um ambiente que iria precipitar, através de ideias e propostas acidentais, a concepção e captura de estratégias oblíquas num processo que não tivesse um objectivo específico ou predeterminado. A música resultante é o resultado da interacção entre várias combinações de oito músicos totalmente complacentes com a experimentação. E se o imprevisível sempre foi adoptado por Eno como uma fonte viável de informação e inspiração, aqui a proeza, é a sua habilidade de orquestrar os diferentes estados e atmosferas produzidas ao longo da construção do disco de forma a submeter os estilos e as texturas sonoras numa única dimensão.
A maior parte do disco possui uma extraordinária e incandescente beleza que ocasionalmente dá lugar a uma mais sombria e sobrenatural tranquilidade. “St.Elmo’s Fire” é uma brilhante ilustração da primeira qualidade: abre com uma complexa matriz rítmica dispersa através dos altifalantes seguida pela voz de Eno à deriva pelo meio de um bruma de subtis enfeites de teclados. A guitarra de Robert Fripp subitamente surge numa brilhante cascata de som, delicadamente realçando o tom predominante da canção com enorme destreza. Este tema está em directo contraste, com a compulsiva cadência rítmica de “Sky Saw” e “Over Fire Island”, que também contêm a claridade glacial que caracteriza “Becalmed” e a excepcional sequência final, “Spirits Drifting” - a brilhante perfeição desta composição é arrepiante. “Golden Hours”, “Zawinul/Lava” e “Everything Merges With The Night” confiam no inegável efeito da pouca complexidade. E assim, o disco, como um todo, é marcado por uma surpreendente frugalidade e uma refrescante ausência da dispensável decoração auricular.
Altamente recomendado.
_
2 comentários:
Brian Eno tem uma discografia muito extensa. Infelizmente ainda não conheço muitos discos dele, mas este chamou-me a atenção.
Parabéns pelo blog.
Olá!
Este disco do Brian Eno é na verdade de uma perfeição mais que perfeita, melhor melhor só o Before and After Science, depois há esse universo da chamada musica ambiental em que as obras-primas se sucedem umas às outras. Ele é um dos habitantes da nossa casa.
Parabéns pela crónica e um abraço cinéfilo
Rui Luís Lima
Enviar um comentário