“On Fire” (1989 Rough Trade)
“This Is Our Music” (1990 Rough Trade)
Aparentemente a ortodoxa combinação de guitarra, baixo e bateria do trio Galaxie 500 continha inapreensíveis e caprichosas qualidades.
As suas invulgares canções – especialmente no impressionante “On Fire” e no excelente “This Is Our Music” – são na sua essência simples e directas, mas eles entregaram os seus segredos lentamente.
A música era opaca, parcialmente devido à produção com rédea branda de Kramer, “fechando”as guitarras de Dean Wareham, repercutindo o seu queixume nasal e adicionando algumas ideias para os arranjos. E segundo o próprio grupo, apesar de Kramer fumar quantidades épicas de marijuana, os efeitos são subtis e em certos momentos subliminais.
A forma como estes três colegas de escola tocavam tinha uma inquietante e surrealista sensação de sempre pairar no ar, com as canções a desfraldarem-se de uma forma linear, mas em vagas, onde o contraste entre a voz desastrada e desafinada de Wareham e a voz flutuante e etérea de Naomi, acrescentava profundidade e equilíbrio. Aqui a guitarra caótica e retumbante de Wareham – com um pendor ocasionalmente vibrante e inflamado numa feroz e intensa erupção eléctrica, profundamente influenciado pelos Velvet Underground – encontrou contraponto no ponderado, cuidadoso baixo de Naomi Yang e na ondulante bateria de Damon Krukowski. “This Is Our Music” exemplifica este confronto, especialmente em “Fourth Of July” e na incandescente versão de “Listen, The Snow Is Falling”, original de Yoko Ono.
O seu disco de estreia, o amargo e romântico “Today” é mais experimental em comparação com os seguintes, mas ainda possui a sua quota de preciosidades - como a sensual e poderosa “Tugboat”, a dócil no entanto assombrosa “Flowers”, ou It’s Getting Late”.
“On Fire” demonstrou a sua crescente competência técnica, possibilitando uma sonoridade mais hermética e é estruturalmente mais possante e o mais unificado, recheado de canções consistentemente calmantes e harmoniosas, exemplificando o que fazem melhor na trágica “Blue Thunder” (uma das mais emotivas e corajosas canções que já ouvi), no sentimento proscrito de “Strange”, no turbilhão de “Snowstorm”, na beleza de “Another Day”, e na perfeita reconstrução do original de George Harrison, “Isn’t It A Pity”
“This Is Our Music” é um luxuriante épico onde guitarras acústicas e eléctricas rodopiam numa magnificente bruma, recheado de canções brilhantes e incomparáveis, como a incrível “Fourth Of July” (provavelmente a mais forte dos G500), a surreal “Hearing Voices” ou a soberba “Summetime”. A edição em CD inclui ainda a deliciosa “Here She Comes Now” (original dos Velvets).
Em 1991 durante uma tourneé completa pelos Estados Unidos e Europa suportando os Cocteau Twins, separaram-se em amargas circunstâncias: Wareham formou os Luna, os quais ele avalia como mais importantes, e Krukowski e Yang tornaram-se primeiro em Damon & Naomi e posteriormente nos Magic Hour. Desde essa altura, todos eles produziram muito boa música, mas estes discos revelam os Galaxie 500 como um dos grupos mais enigmáticos de tempos recentes.
As suas invulgares canções – especialmente no impressionante “On Fire” e no excelente “This Is Our Music” – são na sua essência simples e directas, mas eles entregaram os seus segredos lentamente.
A música era opaca, parcialmente devido à produção com rédea branda de Kramer, “fechando”as guitarras de Dean Wareham, repercutindo o seu queixume nasal e adicionando algumas ideias para os arranjos. E segundo o próprio grupo, apesar de Kramer fumar quantidades épicas de marijuana, os efeitos são subtis e em certos momentos subliminais.
A forma como estes três colegas de escola tocavam tinha uma inquietante e surrealista sensação de sempre pairar no ar, com as canções a desfraldarem-se de uma forma linear, mas em vagas, onde o contraste entre a voz desastrada e desafinada de Wareham e a voz flutuante e etérea de Naomi, acrescentava profundidade e equilíbrio. Aqui a guitarra caótica e retumbante de Wareham – com um pendor ocasionalmente vibrante e inflamado numa feroz e intensa erupção eléctrica, profundamente influenciado pelos Velvet Underground – encontrou contraponto no ponderado, cuidadoso baixo de Naomi Yang e na ondulante bateria de Damon Krukowski. “This Is Our Music” exemplifica este confronto, especialmente em “Fourth Of July” e na incandescente versão de “Listen, The Snow Is Falling”, original de Yoko Ono.
O seu disco de estreia, o amargo e romântico “Today” é mais experimental em comparação com os seguintes, mas ainda possui a sua quota de preciosidades - como a sensual e poderosa “Tugboat”, a dócil no entanto assombrosa “Flowers”, ou It’s Getting Late”.
“On Fire” demonstrou a sua crescente competência técnica, possibilitando uma sonoridade mais hermética e é estruturalmente mais possante e o mais unificado, recheado de canções consistentemente calmantes e harmoniosas, exemplificando o que fazem melhor na trágica “Blue Thunder” (uma das mais emotivas e corajosas canções que já ouvi), no sentimento proscrito de “Strange”, no turbilhão de “Snowstorm”, na beleza de “Another Day”, e na perfeita reconstrução do original de George Harrison, “Isn’t It A Pity”
“This Is Our Music” é um luxuriante épico onde guitarras acústicas e eléctricas rodopiam numa magnificente bruma, recheado de canções brilhantes e incomparáveis, como a incrível “Fourth Of July” (provavelmente a mais forte dos G500), a surreal “Hearing Voices” ou a soberba “Summetime”. A edição em CD inclui ainda a deliciosa “Here She Comes Now” (original dos Velvets).
Em 1991 durante uma tourneé completa pelos Estados Unidos e Europa suportando os Cocteau Twins, separaram-se em amargas circunstâncias: Wareham formou os Luna, os quais ele avalia como mais importantes, e Krukowski e Yang tornaram-se primeiro em Damon & Naomi e posteriormente nos Magic Hour. Desde essa altura, todos eles produziram muito boa música, mas estes discos revelam os Galaxie 500 como um dos grupos mais enigmáticos de tempos recentes.
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5 comentários:
Custa-me discordar dos meus heróis, mas não me parece que os Luna estejam sequer perto do nível dos G500. Mas, é preciso dizê-lo, não era nada fácil... "On Fire" é, cada vez mais, um dos discos da minha vida... e depois ainda há o "Tugboat", o "Fourth of July", e tantas outras canções sublimes... Uma banda única!
Abraço.
Michael Jackson ; (
Sem dúvida uma banda única!Quem dera que voltassem!
Abraço
dj duck
Banda que me foi revelada tarde, tenho o disco "On Fire" que é, de facto, muitíssimo bom. Conheço a espaços a restante obra da banda que é pena ser tão curta.
abraço
Tal como o Strange Quark, apenas os conheci em inícios de 90, com o "On Fire", que ouvi imensas vezes até a cassete ficar quase gasta. Comprei-o há pouco tempo em CD, e nessa reedição há várias versões. Aliás, interpretar de forma diferente as músicas dos outros tornou-se, para os G500 e, posteriormente, para os Luna, uma especialidade colateral.
Abraço.
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