14 abril 2010

Do fundo da prateleira # 22 - The American Analog Set – “The Golden Band” (1999 Emperor Jones)

A beleza intransigente é uma das coisas mais difíceis para um artista realizar. O verdadeiro objectivo da beleza é lançar um feitiço sobre a audiência, para colocá-los em êxtase. A criação artística da beleza envolve saber o que torcer e virar e até onde e quando parar, e tem que ser feito de forma orgânica e inconsciente. Assim, quando uma banda libertina mais conhecida por um furioso “rock” de confronto e um orgulhoso amadorismo cria uma obra de rara beleza, é um momento importante. Com os The American Analog Set, aquele “indie rock”, conflituosamente contrário, abraça plenamente uma beleza exuberante.
Através da utilização de equipamento de gravação analógico, baseando-se numa secção rítmica muscular subjacente aos sintetizadores analógicos e numa voz macia a cantar serenamente, “The Golden Band” é uma obra de beleza refinada da primeira até à última nota. A banda utiliza como ponto de partida canções curtas e bonitas tal como os The Velvet Underground as usavam para neutralizar a sua penetrante escuridão, e em seguida baseiam-se nelas até que as mesmas se tornem em quentes e exuberantes tapeçarias de sonoridades pulsantes (mas nunca sonoramente aglomeradas). Como uns mais estanques Galaxie 500, os The American Analog Set tocam canções ricamente alusivas, e cujos apertados e compactos arranjos florescem como flores quando os escutamos. E podemos ser tão embalado para não nos apercebermos que estamos a ouvir algo tão revolucionário como um trabalho de qualquer ícone do “indie” ou “punk”. Este é um disco de uma beleza simples e subtil. E num mundo onde o antídoto ao estridente niilismo “indie”, é um estridente comercialismo, um álbum com a calma e a confiança anacrónica como “The Golden Band” soa estranhamente, como um manifesto.
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