10 setembro 2010

Classic # 28 - The Stooges – “Fun House” (1970 Elektra)

Se considerar que o primeiro álbum dos The Stooges era essencialmente o som de uns anti-sociais a tocarem o mais cru “garage-rock” possível, repetindo continuamente os mesmos brutais “riffs” de “blues” até atingirem um sentido de ritmo hipnótico no qual a guitarra “guinchava” e o vocalista Iggy Pop cantava contos urbanos que precediam a ascensão do “punk”, o disco seguinte, “Fun House”, ampliou o diagrama sonoro e impulsionou os limites do que o “ rock’n’roll” primário poderia ser ao extremo.
Provavelmente derrotando a sua fonte de inspiração - “White Light/ White Heat” dos The Velvet Underground - no seu próprio jogo (embora por meios um pouco diferentes), eles gravaram o que é indiscutivelmente um dos álbuns mais intensos de sempre, encontraram o equivalente musical da mais desenfreada, anárquica, torturante festa que qualquer homem jamais poderia conceber – simultaneamente terrível e fascinante na sua completamente selvagem naturalidade.
No disco de estreia, Iggy era um vocalista mais conflituoso do que qualquer outro do seu tempo, mas aqui ele surge como se estivesse no meio de uma transe tribal, que exigia a completa submissão” do corpo, mente e alma. As letras complementam a música perfeitamente, mas isto não é poesia para ser analisada ao mesmo nível de seriedade do que seriam letras de Bob Dylan, mas nada poderia ser mais apropriado, no calor do momento que a ladainha “I feel alright” repetida durante o fim incendiário de “1970”.
O registo está carregado com o mais directo “garage-rock” - “Down On The Street”, “Loose”, “T.V.Eye” - e seguidamente e de uma forma lenta entra em improvisação livre (juntando-se aqui para o resto da viagem o saxofonista Steven Mackay, que irá rivalizar os solos com a guitarra de Ron Asheton). Eles tiraram as suas sugestões directamente da então contemporânea cena “avant-gard” “ jazz”, e culminam com o apocalíptico “L.A. Blues”, a única lógica conclusão, quase cinco minutos da mais chocante e pura dissonância que sintetiza o manifesto do álbum. Mas um dos aspectos mais importante deste álbum é a forma como as músicas funcionam como um todo coeso, e 40 anos após o seu lançamento original, quando até mesmo a sua editora recuou perante o seu ruidoso, sujo e brutal “rock’n’roll”, nada pode diminuir a energia pura e genialidade emaranhados nesta celebração irrestrita. “Funhouse” é “Detroit Rock” no seu melhor, servindo como crucial diagrama para o “punk”, “post-punk”, “new wave” e “noise/art rock”.
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1 comentário:

João Passos disse...

Ora aí está uma banda que estou obrigado a conhecer melhor...

Bela introdução.