03 julho 2007

Classic # 6 - My Bloody Valentine - “Loveless” (1991 Creation)

Em “Isn't Anything” (1988) já tinham identificado o projecto sonoro, no entanto o disco tinha como base a experimentação.
Com “Loveless”, Kevin Shields e os MBV expandiram esses sons pegando nos conceitos de “feedback” e “noise”, dando-lhe um sentido de estrutura, harmonia, e uma intensa e bela aproximação atmosférica.
Este conceito é demonstrado na primeira faixa, “Only Shallow”, onde Shields cria uma espiral de melodias, que parece que balança entre os “speakers”, enquanto em fundo, a assombrosa voz de Bilinda Butcher se funde com as outras instrumentações, sugerindo uma multiplicidade de eflúvios possíveis.
A segunda faixa, “Loomer” promove este conceito fundindo as vocalizações com rígidas distorções e uma bateria distante. E na terceira faixa, “Touched”, um instrumental de Colm O’Ciosoig, somos transportados numa viagem surreal, completa de estranhos “loops” e “samplers”.
A partir daqui o disco parece serenar, e Shields começa a tomar mais controlo sobre o som – visível nas guitarras densas e vocalizações celestiais.
Como resultado, “To Where Knows End”, “When You Sleep”, I Only Said”, “Sometimes”, e “Soon” são das mais belas canções da década, com os MBV a criarem um conjunto de temas que simultaneamente oferecem uma experiência desconcertante e perturbadora.
A melodia nunca está esquecida, e as atmosferas sonoras criadas são absolutamente incríveis.
Apesar do som distorcido das guitarras em fundo, nunca é dissonante escutá-lo, é pelo contrário calmante, provavelmente como resultado do uso das Fender Jazzmaster e Jaguars que lhes transmite um som mais caloroso.
As canções confundem-se umas nas outras e todo o disco surge como uma peça de arte, onde a sua coesão é simplesmente persistente, e onde todas as canções ou são praticamente tangíveis ou são inacessíveis.
O “Magnum Opus” dos My Bloody Valentine é um dos discos mais influenciais dos anos 90, um clássico moderno, em originalidade e sedução.

6 comentários:

Joe disse...

Aplica-se a este disco como a poucos outros a mais-que-famosa frase do Pessoa para a coca-cola. Da primeira vez que ouvi os primeiros acordes de "only shallow", estranhei tanto que a reac�o deve ter sido qualquer coisa como "raisparta a merda da cassete que enrolou". N�o tinha enrolado. S� passados uns tempos � que me voltei a aventurar, e quando finalmente entranhei a coisa, percebi que estava aqui um disco como n�o h� muitos, na belexza, no arrojo e na capacidade de ir para al�m daquilo que nos parecia poss�vel.
Por acaso j� h� algum tempo que n�o o ou�o. E s� n�o o vou ouvir agora porque estou a a morrer de cansa�o. Amanh� ter� a sua hora.

Spaceboy disse...

um álbum duma vida.

M.A. disse...

O que mais impressiona neste disco é como algo tão experimental pode ao mesmo ser tão cativante e acessível. Tão insuperável que ainda não teve sucessor. Será que alguma vez terá?

Apesar de hoje, por motivos óbvios, ser dia de "Psychocandy" cá por casa, depois de ler este texto sinto-me tentado a ir buscar "Loveless" à prateleira.

E mais logo vou vestir a minha t-shirt dos MBV! Ou será a dos Sonic Youth? Tou indeciso...

Shumway disse...

É um disco que deve ser apreciado pelo menos uma vez por ano :)

João Vintém disse...

Um dos meus discos preferidos.Necessita de muita entrega por parte do ouvinte mas a melhor música é mesmo essa e não a que serve para "dar ambiente".Tão pop e experimentalista ao mesmo tempo.

http://frankenweeniegoestohollywood.blogspot.com/

O Puto disse...

Não teria descrito melhor este disco, que é um dos álbuns da minha vida. Ainda há dias o reouvi no carro. Nunca o tinha feito. É delicioso, ainda mais com as janelas abertas e em alto volume. Intriga os transeuntes, no mínimo.