04 julho 2008

Classic # 15 - Talking Heads - “Remain In Light” (1980 Sire)

Apesar de pertencerem ao contingente originário do CBGB, os Talking Heads nunca fizeram realmente parte do movimento “punk” ou “new wave”. As ambições de David Byrne eram superiores ao género em que os quiseram enquadrar. Enquanto bandas como os Ramones trituravam humorísticos hinos de três acordes, os TH exploraram a sua própria mescla de “art-rock” dançante. E se todos os discos desde “77” até “Speaking In Tongues” são de uma categoria superior, se tivesse de escolher o melhor, esse seria “Remain In Light”. Aqui uma das mais interessantes bandas de todos os tempos, criou o seu mais exótico e formoso álbum, numa fase da sua inspirada e natural evolução criativa. É certo que a presença de Brian Eno está em todo o lado, no entanto este nunca desvia a banda do seu rumo e limita-se a adicionar mais-valias.
As canções eriçam-se, sempre a transbordarem de ritmos africanos, através de melodias e estruturas invulgares, melódicas decorações “pop”, “loops” e efeitos, e acompanhadas por letras incoerentes proferidas por Byrne, que soando agitado, exulta inquietação e desconforto. Como complemento extra, um conjunto de ilustres convidados, adiciona excelência, na forma inventiva de tocar guitarra, Adrian Belew ou trompete, Jon Hassell.
A primeira metade do disco é altamente excêntrica, uma mutação de “punk", musica tradicional africana e “funk”, e é impressionante pela sua coerente energia. As galopantes polirritmias de “Born Under Punches (The Heat Goes On)” é a melhor maneira de começar um disco. Segue-se a substimada “Crosseyed and Painless”, a complexa “The Great Curve” (que possui um dos melhores harmonizadores de refrão), e a profética “Once In A Lifetime”, que com as suas referências ao materialismo que a década bem definiu, acabou por ser um êxito inesperado. A segunda metade tem um carácter mais misterioso e é mais melancólica, chegando a fascinar e a exasperar simultaneamente pela dissonante dispersão sonora. Começa com a intrincada cadência rítmica de “Houses In Motion”, mas as duas últimas composições fecham o álbum com uma tonalidade sombria e volátil. “Listening Wind” é um verdadeiro assombro, enquanto “The Overload” é como se estivéssemos a andar completamente desorientados pelo meio de umas ruínas resultante de alguma catástrofe.
Musicalmente antecipou muita da actual globalização musical ao influenciar músicos de diversos quadrantes.
Um disco que ultrapassa a excelência.
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3 comentários:

prozac disse...

Os Talking Heads são uma das bandas mais impressionantes de sempre.. Apesar do tempo que já passou, ouvir qualquer um dos albúns dos TH ainda é uma lufada de ar fresco. Esta fase criativa do David Byrne è absolutamente incrivel...
A discografia dos TH, o albúm de estreia dos Roxy Music e o maravilhoso Here Come the Warm Jets do Brian Eno são intemporais

Abraço
Manuel

Rui Carvalho disse...

OUVIR AINDA HOJE TALKING HEADS,É COMO SE FOSSE ONTEM,QUE MODERNIDADE.

spring disse...

Este álbum (sou da idade do vinil) é na verdade a melhor obra dos Talking Heads, onde o trabalho do Brian Eno é bem visível. Mas também tenho um grande apreço pelo album anterior o "Fear of Music" (com poemas espantosos) e essa entrada de leão intitulada "I Zimbra" com o Fripp a mostrar o seu valor.
Abraço cinéfilo
Rui Luis Lima