30 janeiro 2008

School of Language - “Sea From Shore” (2008 Thrill Jockey)

A música unicamente comovente e sofredora dos Field Music, foi para mim uma das melhores revelações de 2007. Parece que infelizmente se separaram, tendo David Brewis criado este projecto, para o qual gravou maioritariamente sozinho os temas que constituem este disco (ocasionalmente surgem os elementos dos Futureheads, seus amigos pessoais, e também eles originários de Sunderland).
Aqui encontramos essencialmente sons vocálicos, mas expansivos, e intrigantes ao mesmo tempo, pela forma notável como Brewis utiliza o seu computador para os criar. Outro aspecto fundamental é o excelente trabalho de produção realizado, especialmente nas percussões.
O disco abre excelentemente com o desarticulado “Rockist Part 1”, continua em alta através da estruturadamente distorcida “Disappointment 99”, da emocionante fluência de “Poor Boy’s”, até chegar a esse exercício interior que é “Rockist Part 3 (Aposiopesis)”, onde Brewis retoma “Rockist Part 1” de uma forma mais tradicional.
Ecos da “pop” seca dos XTC continuam presentes, mas também estão reminiscências dos Broken Social Scene e de toda a escola “pós-rock” de Chicago.

28 janeiro 2008

Do fundo da prateleira # 8 - Helmet – “Strap It On” (1990 Amphetamine Reptile)

Provavelmente sejam mais (re)conhecidos pelo seu trabalho de 1992, “Meantime”, editado já na Interscope, que acabou por ser um disco bastante apreciado pela crítica, e que até podemos considerá-lo como quase perfeito. Mas “Meantime”, não seria a primeira grande produção deste quarteto oriundo de Nova Iorque. Com “Strap It On”, o seu disco de estreia, os Helmet ampliaram o triturar ruidoso que caracterizava os seus primeiros registos ao extrair a sua essência.
Consta que o vocalista, compositor e guitarrista principal do grupo, Page Hamilton, tinha rigorosos processos na composição da canções, mas temas como “Repetition” e “Distracted” foram construídas a partir de pouco mais do que letras simplesmente berradas, alguns “riffs” verdadeiramente defraudantes e um solo de guitarra totalmente discordante. Mas a sua simplicidade era única, e que o baixista Henry Bogdan e o baterista John Stanier (actualmente nos Battles) ajudaram a intensificar com uma combinação de frugalidade e força bruta.
Apesar de a banda posteriormente se ter tornado mais “funky” no álbum “Betty” de 1994 e de ter assimilado os benefícios de uma melhor produção, nunca mais se aproximaram da fórmula aqui aperfeiçoada.

24 janeiro 2008

Inovadores # 6 - Steve Hillage - “Rainbow Dome Musick” (1979 Virgin)

Esqueçam todos os discos de rock progressivo que Steve Hillage editou ao longo da sua carreira, e foquem-se neste “Rainbow Dome Musick”, que é actualmente considerado como um percursor (juntamente com o trabalho de Brian Eno) no que seria denominado de “ambient music”.
Originalmente concebido para um festival intitulado “Mind, Body and Spirit”, o objectivo de Hillage era criar um oásis de harmonia atmosférica.
Juntamente com a sua mulher Miquette Giraudy, Hillage (que nos anos 90 teve algum êxito com o seu projecto System 7), criou um disco onde abundam texturas e cores ambientais, e que é simultaneamente suave e intenso.
Constituem o disco dois belíssimos temas, o primeiro, o relaxante “Garden of Paradise” é baseado em matrizes ressonantes de sequenciadores e umas crescentes texturas sonoras de piano e guitarra eléctrica.
O segundo, o hipnótico “Four Ever Rainbow” começa com o som de um órgão que se desloca ao encontro de ondas deslizantes de guitarra e sintetizador.
Na data da sua edição, em 1979, numa altura em que “punk”, “disco” e “new wave” preenchiam os “tops”, estavam aqui definidas as raízes do que iriam posteriormente denominar como “trance” e “chill-out”.

21 janeiro 2008

Classic # 11 - David Sylvian - “Secrets of the Beehive” (1987 Virgin)

O que mais me fascina neste disco produzido por Steve Nye é a sua simplicidade, que assenta em três características essenciais: a primeira, a instrumentalização simples, num estilo experimental, com elementos de “jazz” em algumas faixas, e nos ordenados arranjos: obsidiantes, orgânicos e apaticamente terrenos; a segunda é a voz quente de David Sylvian que tem o poder de nós embalar num estado de tranquilidade; e a terceira, as canções: as requintadas letras demonstram uma profundidade fora do alcance das casuais contemplações relativas ao amor e à vida, esperança e desespero, fundidas com mitos e mistérios e são recheadas em metáforas e magia. São pequenas histórias elípticas, todas elas lacónicas, mas no entanto sedutoras. Assombrosas, mas não depressivas.
O disco abre de uma forma minimal com “September”, piano, arranjo de cordas, e voz, que fala sobre a dualidade do Outono que traz beleza no amontoar da queda das folhas.
E inclui duas das minhas canções favoritas: “The Devil’s Own” com uma sofisticada melodia que parece que flutua no ar, este tema tem uma qualidade etérea que torna difícil de descrever ou replicar, e a toxicamente bela “When Poets Dreamed of Angels” com uma poderosa qualidade rítmica e emotiva.
Mas ainda temos canções do calibre de “Orpheus”, “The Boy with The Gun” ou “Let the Happiness In”, que tornam o disco verdadeiramente arrebatador.
Como bónus a edição em CD contém ainda uma versão da magnífica colaboração com Ryuichi Sakamoto para a banda-sonora de “Merry Christmas Mr.Lawrence”: “Forbidden Colours”. Mais uma pérola.

18 janeiro 2008

Um blog

1 ano...
Primeiro objectivo conseguido...
Não foi fácil, mas tentei colocar 2/3 post por semana - e tentei não falar só dos meus artistas favoritos, alguns deles nem um post tiveram.
Falei sobre os meus discos favoritos, os meus clássicos, alguns discos perdidos, discos que na minha opinião mais impacto tiveram na história e evolução da musica rock. Digo rock, pois é mais fácil, pois generos musicais é que não é comigo, como já devem ter constatado, pois uma dificuldade acrescida é o facto de existirem ainda muitos grupos e discos de quadrantes musicais totalmente opostos que gostaria de partilhar, porque os meus gostos musicais são extremamente variados (como diz a minha mulher: "isso é muito calmo" ou "isso é muito barulho"), e o tempo livre disponivel não permite a dedicação ao "bichinho" que eu bem gostaria (ah...nunca mais sai o Euromilhões).
E como existem vários blogs muito interessantes que divulgam as notícias relevantes e promovem as novidades musicais, tentei falar de alguns projectos que não tiveram o mesmo destaque, mas que na minha opinião o mereciam.
Próximo objectivo: continuar com o blog por mais um ano
Vamos tentar introduzir algumas alterações. Ideias não faltam, é só uma questão de se concretizarem.


Agradeço a todos os visitantes os seus reconfortantes comentários

Novidades - The Jesus and Mary Chain

Na sua página no MySpace, os The Jesus and Mary Chain colocaram versões demo de três músicas novas. "War On Peace", "Cookies" e "Boiling Over" são o primeiro material apresentado pela banda desde o lançamento de "Munki".

Está ainda previsto para o mês de Março, um regresso aos palcos, com 2 datas previstas para o Roundhouse, em Londres.

16 janeiro 2008

Singles # 12 - Ian Dury – “Sex & Drugs & Rock & Roll” (1977 Stiff)

Há trinta anos atrás, quando criou esta terminologia trivial, Ian Dury não era um miúdo punk, mas antes um veterano do “pub-Rock”, pois em 1977 quando assinou pela Stiff já tinha 35 anos.
E curiosamente seria ao adaptar uma nota de uma canção do veterano músico de “jazz”, Ornette Coleman, que iria criar uma das canções universalmente mais conhecidas, e constantemente referenciada como o típico estilo de vida do músico “rock“.
Mas no entanto este hino, não iria celebrar o hedonismo pateta associado ao movimento, antes pelo contrário, pois a canção esconde uma letra de grande sobriedade e perspicácia.
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14 janeiro 2008

Mouthus – “Saw a Halo” (2007 Load)

Desde a sua formação em 2002, este enérgico duo de Brooklyn já tinha editado dez registos em diversas editoras independentes, o que torna difícil o acompanhamento da sua carreira.
Este “Saw a Halo” é um registo diferente do seu característico som “noise-drone”, pois apesar dos sons eléctricos e abrasivos estarem bem presentes, o aparecimento de guitarras acústicas em três dos sete temas do disco, é uma interessante e imprevista surpresa.
É certo que mantém-se a experimentação sónica que os tornou tão inovadores, mas existiu uma mudança na forma definida que a torna nova e convincente.
Os Mouthus não disfarçam o espírito original da escola experimental nova-iorquina, ao misturar o “noise” com o psicadelismo ambiental (como tão bem fazem os Wolf Eyes). Mas sempre sem esquecer o elemento “rock”, nas longas excursões sonoras até ao infinito, baseadas em estruturadas experiências sónicas, com as suas alterações constantes de ritmo, criadas pela tribal e furiosa bateria, pela explosiva guitarra e pelas gementes vozes.

10 janeiro 2008

Inovadores # 5 - A.R.Kane - “69” (1988 Rough Trade)

Quando os A.R.Kane participaram em “Pump Up the Volume”, a sua contribuição foi mínima, no entanto, no lado B do referido tema, criaram “Anitina”, onde já demostravam o rumo que pretendiam seguir.
Só a forma como o disco começa, com o estranhamente cativante “Crazy Blue”, é um pronuncio do que se segue. Pois estamos perante um exercício ecléctico, alucinogénico e experimental, cujo resultado são canções extraordinárias, com letras alucinantes, do calibre da refrescante “Baby Milk Snatcher” com as suas referências ao sexo oral, ou da cristalina fantasia que é “Spermwhale Trip Over” e os seus delírios obtidos através dos efeitos do LSD. Na balbuciante agregação de sons de “Sulliday” atingem o limite máximo da incompreensível experimentação.
Da combinação da voz única de Rudi Tambala, com os instrumentos de Alex Ayuli, através da utilização de som e texturas que relembram os experimentalismos dos pioneiros do rock psicadélico dos anos 60/70, com elementos adicionais do indie-pop dos anos 80, resulta uma sensual atmosfera imersa em reverberatório feedback, onde muitos temas podem não ser considerados canções, mas “sarrabiscos” sonoros.
Foram comparados com os The Jesus and the Mary Chain, Cocteau Twins (Robin Guthrie co-produziu alguns temas anteriores) ou até com os Pink Floyd (fase Syd Barrett). E posteriormente, também seriam considerados como percursores do “shoegazer”.
Os registos seguintes (“i” e “New Clear Child”), são satisfatórios, mas falta-lhes a profundidade deste disco.
Aqui criaram um disco inventivo e verdadeiramente elíptico.

08 janeiro 2008

Do fundo da prateleira # 7 - The God Machine - “One Last Laugh In A Place of Dying” (1994 Fiction)

Os The God Machine eram um trio de amigos oriundos de San Diego, que se encontrariam ocasionalmente em Inglaterra onde acabariam por formar uma banda.
Aí permaneceriam ilegalmente, tendo habitado em casas abandonadas, trabalhado como lacaios, até conseguirem juntar o dinheiro suficiente para adquirir instrumentos musicais. Posteriormente, e através de “demos” atraíram o interesse da editora Fiction, propriedade dos The Cure.
O seu disco de estreia “Scenes From The Second Storey” era hipnótico e minimalista, mas com um lado melódico que penetrava através das sombrias atmosferas e do lamento “ferido” do vocalista Robin Proper-Sheppard.
Para o segundo disco, ampliaram o som, sem o tornarem macio.
Utilizando como inspiração uma técnica de produção, que podemos classificar como similar à fase final dos Talk Talk, que pretendia suavizar o acesso à sua introspecção e cólera.
Assim através de arranjos pouco densos e da produção “simples”, conseguiram que as estimulantes letras de Proper-Sheppard fossem ainda mais incisivas.
Ele dizia em “Painless”: “You said life could be painless and I’m sorry but that’s not what I’ve found”, e infelizmente, a letra profetizou a morte do baixista Jimmy Hernandez, que iria falecer pouco tempo depois do disco estar concluído com um hemorragia cerebral (e assim a origem do título do disco seja apropriada).
No final, a edição que saiu para a rua, continha as versões rudimentares, ainda sem o polimento pretendido, mas as imponentes canções e a forte química existente foram elevadas pela produção agreste.
Proper-Sheppard trocou a afronta pela resignação, e a electricidade pela acústica, no seu projecto actual Sophia.

05 janeiro 2008

Best of 2007

Custou, mas para não deixar que fiquem com má opinião sobre o blog, anexo uma selecção pessoal dos melhores discos adquiridos no ano de 2007:

Os 15 que mais me fascinaram
Andrew Bird - "Armchairs Apocrypha"(Fat Possum)
Arcade Fire - "Neon Bible"(Merge)
Battles - "Mirrored" (Warp)
Burial - "Untrue" (Hyperdub)
Electrelane - "No Shouts No Calls" (Too Pure/Beggars)
Iron & Wine - "The Shepperd's Dog" (Sub Pop)
LCD Soundsystem - "Sound of Silver" (DFA)
Liars - "Liars" (Mute)
Panda Bear - "Person Pitch"(Paw Tracks)
Robert Wyatt - "Comicopera" (Domino)
Stars of the Lid - "And Their Refinement of the Decline" (Kranky)
The Fiery Furnaces - "Widow City" (Thrill Jockey)
The National - "Boxer" (Beggars Banquet)
The Shins - "Wincing the Night Away" (Sub Pop)
Yesterdays New Quintet - "Yesterdays Universe" (Stones Throw)

Mais 15 que me surpreenderam
Antibalas - "Security" (Anti)
Band of Horses - "Cease To Begin" (Sub Pop)
Beirut - "The Flying Club Cup" (4AD)
Caribou - "Andorra" (Merge)
Field Music - "Tones of Town" (Memphis Industries)
Jens Lekman - "Nights Fall Over Kortedala"(Secretly Canadian)
Jimi Tenor & Kabu Kabu - "Joystone" (Sahko)
Lobster - "Sexually Transmited Electricity" (Borland)
Micro Audio Waves - "Odd Size Baggage" (Magic Music)
Mudd - "Claremont 56" (Rong)
Nina Nastasia & Jim White - "You Follow Me" (Fat Cat)
Pinch - "Underwater Dancehall" (Tectonic)
P J Harvey - "White Chalk" (Island)
Spoon - "Ga Ga Ga Ga Ga" (Merge)
The Field - "From Here We Go Sublime" (Kompakt)

5 Maxis que fizeram o velhinho SL 12000 trabalhar muito
LCD Soundsystem - "Someone Great" (DFA)
Pop Dell'Arte - "Querelle" (Bloop)
Tony Allen - "Kilode" (Carl Craig Remixes) (Honest Jon's)
Faze Action - "In The Trees" (Carl Craig Remixes) (Juno)
!!! - "Must Be The Moon" (Emperor Machine Remix) (Warp)