Um verdadeiro cavalheiro, um gracioso e sensato poeta lírico, um hábil instrumentista, mas será pela sua forma de cantar que Robert Wyatt será certamente melhor recordado.
Na sua estranha, coloquial voz, Wyatt, destilou a sua singular contribuição para a sitiante alma do rock. A sua voz deu sequência a inúmeras canções ao longo de sucessivas tapeçarias de rock psicadélico, rock experimental, pós-punk, agit-pop, jazz, electrónica, sem nunca afasta-lo do trajecto que ele definiu para si próprio à 40 anos atrás.
Foi Wyatt que introduziu a noção revolucionária de cantar tal como falávamos, numa época onde todos à sua volta estavam a imitar os vocalistas “r&b” americanos. Nos Soft Machine era baterista e vocalista no agridoce “pop” do movimento Canterbury, de onde surgiram os Caravan ou Kevin Ayers, e onde Wyatt ajudou a definir um tipo especial de psicadelismo britânico, com a sua voz elevada, penetrante e muitas vezes deliberadamente deprimida para elevar o cociente de melancolia.
Após a sua injusta saída dos Soft Machine, formou os Matching Mole (o mesmo significado em francês para brincar com os seus ex-colegas) e produziu dois álbuns com eles – um deles uma errática obra-prima – mas em Junho de 1973 iria cair de uma janela num quarto andar aquando de uma festa e partiu as costas. O incidente tornou-o paraplégico. Mas na sua estadia no hospital ele começou a elaborar “Rock Bottom”, o seu primeiro regresso.
Wyatt mais tarde, chegou a afirmar que “foi libertado” pela paraplegia, pois não teria mais que estar ligado a um grupo. Assim sentia-se mais confortável a fazer o que queria primeiro e depois procurava as pessoas mais indicadas para trabalharam nos temas que queria.
A dor, mas também o humor nunca estiveram afastados no trabalho de Wyatt. A sua música é tão profundamente comovedora, porque é uma muito directa expressão dos seus sentimentos no momento da gravação. “Rock Bottom” (1974) registra o choque da hospitalização, a enormidade da alteração da sua vida, em submersas e deslizantes melodias electrónica sobre ondulantes correntes de percussão. Pois sendo Wyatt um baterista, o acidente forçou-o a procurar formas musicais mais imaginativas. O disco seguinte “Ruth Is Stranger Than Richard” (1975) inclui a extraordinária versão de “Song For Che”, original de Charlie Haden.
O segundo regresso surge no início dos anos 80 a convite de Geoff Travis da Rough Trade, que editou uma colecção de “singles” que eram destinados a funcionar como boletins políticos sobre a liberdade (reunidos em ” Nothing Can Stop Us”), e que inclui superlativas versões de “At Last I’m Free” dos Chic ou de “Strange Fruit” popularizado por Billie Holiday. Iria inclui ainda “Shipbuilding” de Elvis Costello, que este ultimo compôs especialmente para Wyatt, e que resultaria num inesperado êxito.
O seu terceiro regresso surge em 1997 com o magnifico “Shleep”, gravado no estúdio de Phil Manzanera, e com a colaboração de Brian Eno, Evan Parker ou Annie Whitehead e também, surpreendentemente, de Paul Weller. Com o balanço entre invenção musical e jovialidade, estruturas sonoras e a liberdade para músicos como Parker de alargar as canções para além dos seus parâmetros, e as cáusticas reflexões e as disparatadas letras, “Shleep” inverte a espiral de desespero que caracterizavam os seus últimos discos. Ouçam a debilmente cómica, no entanto arrebatadoramente melancólica meditação psicológica denominada “Free Will And Testament”. Continuou a surpreender-nos com “Cuckooland” (2003) e “Comicopera” (2007), uma dissoluta espécie de ópera mas nitidamente ambiciosa, que inclui a atmosfera intranquila de “Out Of The Blue, e que são uma real celebração de amigos e músicos a tocarem juntos, a convite de um artista que nesta altura simplesmente não se interessa por géneros ou rótulos musicais.
Um penetrantemente inteligente músico que nunca devia ter parado de criar, pois a sua cativante obra fascina pela sua lírica sinceridade.
Na sua estranha, coloquial voz, Wyatt, destilou a sua singular contribuição para a sitiante alma do rock. A sua voz deu sequência a inúmeras canções ao longo de sucessivas tapeçarias de rock psicadélico, rock experimental, pós-punk, agit-pop, jazz, electrónica, sem nunca afasta-lo do trajecto que ele definiu para si próprio à 40 anos atrás.
Foi Wyatt que introduziu a noção revolucionária de cantar tal como falávamos, numa época onde todos à sua volta estavam a imitar os vocalistas “r&b” americanos. Nos Soft Machine era baterista e vocalista no agridoce “pop” do movimento Canterbury, de onde surgiram os Caravan ou Kevin Ayers, e onde Wyatt ajudou a definir um tipo especial de psicadelismo britânico, com a sua voz elevada, penetrante e muitas vezes deliberadamente deprimida para elevar o cociente de melancolia.
Após a sua injusta saída dos Soft Machine, formou os Matching Mole (o mesmo significado em francês para brincar com os seus ex-colegas) e produziu dois álbuns com eles – um deles uma errática obra-prima – mas em Junho de 1973 iria cair de uma janela num quarto andar aquando de uma festa e partiu as costas. O incidente tornou-o paraplégico. Mas na sua estadia no hospital ele começou a elaborar “Rock Bottom”, o seu primeiro regresso.
Wyatt mais tarde, chegou a afirmar que “foi libertado” pela paraplegia, pois não teria mais que estar ligado a um grupo. Assim sentia-se mais confortável a fazer o que queria primeiro e depois procurava as pessoas mais indicadas para trabalharam nos temas que queria.
A dor, mas também o humor nunca estiveram afastados no trabalho de Wyatt. A sua música é tão profundamente comovedora, porque é uma muito directa expressão dos seus sentimentos no momento da gravação. “Rock Bottom” (1974) registra o choque da hospitalização, a enormidade da alteração da sua vida, em submersas e deslizantes melodias electrónica sobre ondulantes correntes de percussão. Pois sendo Wyatt um baterista, o acidente forçou-o a procurar formas musicais mais imaginativas. O disco seguinte “Ruth Is Stranger Than Richard” (1975) inclui a extraordinária versão de “Song For Che”, original de Charlie Haden.
O segundo regresso surge no início dos anos 80 a convite de Geoff Travis da Rough Trade, que editou uma colecção de “singles” que eram destinados a funcionar como boletins políticos sobre a liberdade (reunidos em ” Nothing Can Stop Us”), e que inclui superlativas versões de “At Last I’m Free” dos Chic ou de “Strange Fruit” popularizado por Billie Holiday. Iria inclui ainda “Shipbuilding” de Elvis Costello, que este ultimo compôs especialmente para Wyatt, e que resultaria num inesperado êxito.
O seu terceiro regresso surge em 1997 com o magnifico “Shleep”, gravado no estúdio de Phil Manzanera, e com a colaboração de Brian Eno, Evan Parker ou Annie Whitehead e também, surpreendentemente, de Paul Weller. Com o balanço entre invenção musical e jovialidade, estruturas sonoras e a liberdade para músicos como Parker de alargar as canções para além dos seus parâmetros, e as cáusticas reflexões e as disparatadas letras, “Shleep” inverte a espiral de desespero que caracterizavam os seus últimos discos. Ouçam a debilmente cómica, no entanto arrebatadoramente melancólica meditação psicológica denominada “Free Will And Testament”. Continuou a surpreender-nos com “Cuckooland” (2003) e “Comicopera” (2007), uma dissoluta espécie de ópera mas nitidamente ambiciosa, que inclui a atmosfera intranquila de “Out Of The Blue, e que são uma real celebração de amigos e músicos a tocarem juntos, a convite de um artista que nesta altura simplesmente não se interessa por géneros ou rótulos musicais.
Um penetrantemente inteligente músico que nunca devia ter parado de criar, pois a sua cativante obra fascina pela sua lírica sinceridade.
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4 comentários:
Great, great blog. ;)
Entra para os meus favoritos já.
Obrigado.
Tb já "linkei" o teu.
Abraço
O último Comicopera fez parte dos meus discos de eleição em 2007. É (sempre) um prazer ouvir Wyatt... ultimamente tenho estado a ouvir os Soft Machine e em particular o portento que é "Third".
"Third" é realmente irresistivel...
Abraço
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