17 janeiro 2011

Classic # 29 - Blur – “Parklife” (1994 Food)

Apenas três meses após o lançamento de “Modern Life Is Rubbish”, os Blur entraram no estúdio de Maison Rouge com o produtor Stephen Street para começarem a trabalhar no próximo álbum. Nesta fase eles ainda eram somente uma pequena banda de culto, essencialmente pelo relativo sucesso dos “singles” “There’s No Other Way”, “For Tomorrow” e “Chemical World” nas tabelas de vendas britânicas. Pois antes de ser tornarem na essência do “britpop” dos nos 90, os Blur eram apenas uns meros pretendentes ao trono, e seria a partir deste disco que se tornariam numa das mais assombrosamente consistentes e audazes bandas das últimas décadas.
Se por um lado “Parklife” é um disco que audaciosamente retrata um período temporal, no entanto este encontra-se a anos-luz da maioria dos discos desse mesmo período. Com uma parte de mordazes comentários sociais, e outra parte de pura extravagância pop “pós-punk”, o disco gerou a mais dançável crítica social com o ultra contagiante e decadente “disco” de “Girls & Boys” e incluía mais 15 outras variadas músicas (desde o ardente “neo-punk” de “Bank Holiday”, passando pelo misterioso “space-rock” de “Far Out”, pelas melódicas harmonias de “Badhead”, até às luxuriantes orquestrações de “To The End”), o terceiro disco do grupo de Londres, misturou um irresistível e contagiante “pop”, com “soul grooves” e belas guitarras irregulares, tudo suportado por irónicas letras que satirizavam todas as coisas verdadeiramente burguesas e britânicas.
“Parklife” extravasa melodias e atmosferas e as letras de Damon Albarn desdobram-se como um grande história, saltando de uma idiossincrasia da sociedade Inglesa para outra. As suas personagens são ricas e complexas figuras, cujas vidas e acções conseguem agarrar a atenção do ouvinte (segundo Damon Albarn, “Parklife” significa “o ambiente onde a normalidade tem a oportunidade de distorcer, mas nunca realmente mudar”).
Apoiado pelas loucas vendas do “single” “Girls and Boys”, este arrebatador disco atingiu o topo das tabelas de vendas e os Blur acabaram por passar de uma banda miserável que estava prestes a ser esmagada pelo “grunge”, para serem aclamados como a melhor banda britânica desde os The Smiths.
Mas talvez a melhor ironia, é que no processo de desvirtuamento dos estereótipos modernos, os Blur não conseguiram evitar de participar numa das mais duradouras instituições britânicas: o “pop” sofisticado.
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2 comentários:

M.A. disse...

Embora menosprezado na altura e ainda hoje, julgo que o "Modern life is rubish" já insinuava algumas das ideias desenvolvidas no "Parklife", embora ainda em tom mais pálido. Por acaso, foi um disco que gostei de imediato e aquele onde me dei conta de que os Blur eram algo mais do que uma banda indecisa entre o shoegaze e o baggy.

Abraço!

Gravilha disse...

o modern life is rubish foi o meu clic com os blur, ainda por cima apanhei-os por acaso na figueira da foz, numa primeira parte da siouxsie; estavam na contagem descrescente para o 2º album e foi dos melhores concertos onde estive. O Damon é (ou era, ou foi nessa noite) um entertainer hilariante, entre piadas de fino recorte, mergulhos para o publico e subidas ao cimo da estrutura do palco - que desesperaram a segurança - desenrolou uma parte de modern life em grande estilo e agarrou uma pequena multidão que, no final da noite, já nem achou assim tanta piada à susie sue. Afinal de contas o melhor momento do dia tinha sido dos blur. parklife é um grande disco mas prefiro o modern life is rubish.
abraço,