02 março 2011

Wire – “Red Barked Tree” (2011 Pink Flag)

Ao longo da sua carreira de 35 anos, os Wire sempre se basearam em contrariedades, eles eram suaves e limpos, e rigidamente experimentais numa época em que o “punk” não era nadas dessas coisas. Eles sempre intensificaram os princípios da disciplina formal da arte musical (eles que poderiam ter abandonado após os seus álbuns de 1977-79, e o seu lugar na história já teria sido salvaguardado) e ao longo dos anos foram mergulhando em muitos mares do mais inteligente “indie-rock” – “electro”, “pop-art”, “shoegazing” – e apesar de ser muito mais um álbum de guitarra, “Red Barked Tree”, sente-se como uma amálgama da sua curiosidade. Retomando a partir de onde “Object 47” (2008) tinha terminado, o angular “Red Barked Tree” é um álbum sem remorsos, onde encontramos os Wire a revisitar o seu passado de uma forma simultaneamente familiar e diferente. Aqui temos os Wire antigos e os Wire modernos. “Red Barked Tree” ergue-se à altura da trilogia original melhor que qualquer álbum desde o sinistro “A Bell Is A Cup Until It Is Struck” (1988), e eles parecem francamente entusiasmados, seja na desajeitada e carregada guitarra de “Please Take”, na bombástica e dinâmica “Now Was”, na contemplativa “Adapt”, no forte choque de confrontação presente em “Two Minutes”, nas quentes guitarras “indie” de “Bad Worn Thing”, no excitante e angular “art-pop” de “A Flat Tent”, ou na mistura entre rodopiante e espinhosa guitarra “noise” com a perfeita melodia “pop” realizada em “Smash”, criando 11 faixas de ritmos enganosamente simples, de cintilante instrumentação e com um inabalável propósito que arrasta a sua “antiga” sonoridade para novos domínios.
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1 comentário:

M.A. disse...

Aqui aplica-se aquela velha máxima sobre o Vinho do Porto. Um dos discos do ano, seguramente, arrisco a esta distância.

Abraço.