
Estamos na presença de um disco esplêndido, mas que foi sempre extremamente subestimado na longa carreira de Cale.
Minimal, frugal e espectral (em completo contraste com as experiências “noise” do disco anterior “Honi Soit”), aqui existe uma arrebatadora sensação de desânimo, derrota, traição e desespero, que se senta lado a lado com pungentes passagens de pura beleza, entregues na desamparado e dramática voz de Cale.
Gentis mas perturbadoras baladas como “Taking Your Life In Your Hands”, “Thoughtless Kind”, “Sanities” ou “If You Were Still Around” (com letras de Sam Shepard) surgem acompanhadas por ameaçadoras e desarticuladas colagens sonoras, que substituem os “tradicionais” arranjos “rock”, e que provavelmente serve para demonstrar bem os instintos do ex-Velvet Underground, quer como experimentalista sónico, quer como criador de gentis melodias. Ouçam a forma como a maravilhosa “Risé, Sam & Rimsky-Korsakov”, edifica uma nova forma de expressão.
Um disco profundamente emotivo e inquietantemente pessoal, mas que nos acompanhará para sempre.
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John Cale - Taking Your Life In Your Hands