23 dezembro 2009

Canções de Natal III

Com um desejo de festas felizes para todos os visitantes do blog, anexo mais uma lista de canções alusivas à época:

Casiotone For The Painfully ALone - Cold White Christmas (2006 do álbum "Etiquette")

Death Cab For Cutie - Christmas (Baby Please Come Home) (2007 do álbum "Rockabye Baby! - Lullaby Renditions Of Christmas Rock Classics")

Evangelicals - The Last Christmas On Earth (2007 do álbum "Mistletonia")

Frightened Rabbit - It's Christmas So We'll Stop (2007 do 7" homónimo)

John Cale - Child's Christmas In Wales (1973 do álbum "Paris 1919")

Swearing At Motorists - Inadvertent Christmas Song (2000 do álbum "Number Seven Uptown")

The Black Arts - Christmas Number One (2007 do 7" homónimo)

The Fall - No Xmas For John Quays (1979 do álbum "Live At The Witch Trials")

The Pale Fountains - Benoit's Christmas (1988 do álbum "Ghosts Of Christmas Past")

18 dezembro 2009

Jon Spencer Blues Explosion - Discografia Selectiva

“Extra Width” (1993 Matador)
“Extra Width” é a analogia aural de um momento flamejante – uma mistura de “tequila”, “Budweiser” e “speed”- excepto a paranóia e náusea resultantes.
Unidos pelo desejo de “fazer algo realmente louco”, Jon Spencer, Judah Bauer e Russell Simins (ex-Honeymoon Killers) estão tão versados no papel de uns verdadeiros mestres do “blues”, como estão no de teóricos da deconstrução.
No seu mundo Son House “jams” com os Gang of Four, Thurston Moore toca com os Million Dollar Quartet, e uma desordem áudio é talhada. Em estúdio, Spencer e companhia tocam com as camadas visíveis, os níveis sonoros no máximo e com o bom senso de saberem que o “real blues” não é um produto rarefeito para os fãs de Robert Cray. Os The Blues Explosion começavam a deixar marcas indeléveis na música “rock”.

“Orange” (1994 Matador)
Um grande passo em frente em relação a “Extra Width” – um motim rítmico que confunde e perturba. A prontidão de misturar as coisas de Spencer – principalmente o Theremin, com as influências Stax e “P-Funk” - é inspirador.
Treze exuberantes e empolgantes canções de irresistível e vibrantemente ruidosa energia.
Existe mais do que uma forma de aproximação à música dos JSBX. Primeiro como uma jubilosa continuação do caminho de “blues’n’roll” de Captain Beefheart – tal como este fez com Howlin’ Wolf, Spencer faz o mesmo para Hound Dog Taylor (a fonte original da Blues Explosion – 2 guitarras, bateria e sem baixo). Segundo, como um alegre despojamento do niilismo da “No Wave” nova iorquina, da qual os Pussy Galore eram os enteados não desejados. Convém relembrar que os Pussy Galore fizeram uma bizarra versão integral de “Exile On Main Street” dos Rolling Stones.

“ACME” (1998 Matador)
Embora seja o resultado de mais de seis meses de gravações em colaboração com cerca de uma dúzia de produtores, o quinto disco da Jon Spencer Blues Explosion parece mais o resultado uma gravação ao vivo.
A restrição aqui é a chave, quando Spencer, o guitarrista Judah Bauer (que toca aqui muito mais baixo do que fazia no passado) e especialmente o baterista Russell Simins afinam o tipo de “soul” dos anos 60, que o “punk” era muito orgulhosamente indisciplinado para imitar.
“ACME” marca o regresso da JSBX aos ritmos uniformes – mais ao estilo de “Orange” (1994) do que do saltitante “Now I Got Worry” (1996) – mas agora, em vez de libertas, as batidas tribais de Simins estão em satisfeito conflito com o unicamente não refinado sentido melódico de Spencer e actuam perfeitamente.
Se canções como “Magical Colors” e “Do You Wanna Get Heavy?” mergulham em novos padrões rítmicos, já “Blue Green Olga” e “Torture” são suficientemente suaves, que a característica rudeza de Spencer, ao inicio parece ausente.

“Damage” (2004 Mute)
Podemos bem dizer: “If ain’t broke, why fix it?”, os The Blues Explosion parecem melhorar com o passar dos anos. E o facto de abandonarem o Jon Spencer do nome da banda parece o único sério desvio do descarnado e irregular “blues-punk”, mas bem característico, que vêem a produzir ao longo dos últimos anos.
Desta vez são ajudados por convidados como DJ Shadow ou David Holmes, que fundem as arrogantes, mas seguras guitarras com o carácter do “hip hop” e ainda captam o frenético e louco gorgolhar de Jon Spencer.
Desde o lento e taciturno “Spoiled”, com a presença de Martina Topley-Bird, passando pelo discurso politico de ” Hot Gossip” (com a presença de Chuck D dos Public Enemy) , pelo impetuoso “pop” de “Crunchy”, pelo “space-rock” de “You Been My Baby”, até à paranóica “Rattling”, é só fúria, com os ritmos triturantes a impelirem este besta através do “rock’n’roll”, “white soul”, “southern rock”, e muito mais “natural blues” do que qualquer disco de Moby.
_
_
_

16 dezembro 2009

Singles # 19 - The Jesus and Mary Chain – “Just Like Honey” (1985 Blanco Y Negro)

Apesar de “Just Like Honey” apenas ter sido o terceiro “single” extraído de “Psychocandy”, foi sempre o que mais me marcou.
Ao combinarem dois acordes, uma batida primitiva de bateria e um torrencial “wall of sound” de feedback e distorção que mutila as guitarras, com uma melodia simples, invocam os primórdios do “rock and roll”, ao pegaram numa formula vulgar e formal de elaborar música, muito ao espírito de um Phil Spector.
Mas é nesses dois aspectos, que se encontra a sua beleza. Uma explosão de “noise” finamente presa a uma melodia.
Evocativa e sexual, as provocadoras letras, cujas referências acerca de ser o “plastic toy” de alguém, não parecem nada inocentes. Mas como é tão aduladora e sincera, é mais uma canção de amor do que um relato de uma aventura carnal. E por isso certamente foi tão bem seleccionada para o final do filme “Lost In Translation”.
_

14 dezembro 2009

Atlas Sound – “Logos” (2009 Kranky)

Bradford Cox ofereceu-nos no ano transacto, dois excelentes discos, que estiveram entre os melhores desse mesmo ano - “Microcastle” dos Deerhunter e o primeiro disco do seu projecto a solo, Atlas Sound - onde regressa agora.
Aqui, em oposição ao Deerhunter, Cox permite a si próprio mais liberdade na composição, e o resultado é mais um disco extremamente ecléctico, cuidadosamente composto, e com uma atenuante elegância.
Dentro do seu admiravelmente invulgar e intenso mundo interno, ”Logos” consegue combinar melodias simples com bastante experimentalismo, o que permite ao ouvinte regressar sempre preparado para novas sensações auditivas.
Gravado de forma súbita em tournée, conta com bastantes convidados ilustres, como Noah Lennox/Panda Bear dos Animal Collective, no desenvolto e sublime “psych-pop” de “Walkabout”, Sasha Vine dos Sian Alice Group, na frágil tolerância de “Attic Lights” ou Laetitia Sadier dos Stereolab, que empresta a sua volátil voz às acidentadas matrizes sonoras do épico “Quick Canal”. Estes convidados efectivamente ajudaram a dar uma nova ressonância a este caleidoscópio sonoro, mas apesar da sua presença, “Logos” é ainda predominantemente uma questão verdadeiramente insular para Cox, mas que aqui soa mais vivo e mais solto do que no primeiro disco. Isso é visível nas harmónicas tonalidades que emergem de “An Orchid”, no evasivo “pop” acústico de “Criminals”, na interminavelmente memorável e vibrante pseudo-balada “Sheila” ou nos cintilantes sintetizadores e ritmos activos de “Kid Klimax”.
Dolorosamente belo.
_

11 dezembro 2009

Inovadores # 15 - The Slits & The Raincoats

Se pretendem música “normal” ou um ordinário “punk-rock”, esqueçam, estamos na presença de dois discos verdadeiramente inovadores, onde mostraram que as raparigas também podiam fazer o que os rapazes andavam a fazer, e aqui podemos incluir ainda as Au Pairs ou as Delta 5, entre outras. Sem as The Slits e as The Raincoats, poderiam não ter existido bandas como Luscious Jackson, L7 ou Elastica.


The Slits - “Cut” (1979 Island)

Explodiram num movimento “punk” dominada pelos homens durante uma abertura de um concerto dos The Clash na sua White Riot Tour de 1977. A sua missão era de escapar às rígidas tradições rítmicas do “rock” e os majestosamente grosseiros estilos do “dub”que influenciaram “Cut” realizou isso mesmo. A sonoridade e o menos que sincero título do primeiro “single” “Typical Girls”, determinou a agenda – as vocalizações chamamento e resposta que lutavam para serem ouvidas sobre percussões em chapas metálicas e irregular dissonância musical.
Apesar do sucesso do disco (chegou ao Top 30 em Inglaterra), a banda perdeu o rumo ao direccionar-se para intratáveis “jams”, editando apenas mais um disco de estúdio. “Cut”, no entanto, mantêm toda a atrevidamente indiferença confrontante da sua capa.
Como bonus no CD, está a versão para “I Heard It Through The Grapevine” de Marvin Gaye.

The Raincoats - “The Raincoats” (1979 Rough Trade)

Politicas, feministas e verdadeiramente inspiradoras, e não o foram só para um jovem americano chamado Kurt Cobain, mas também para o movimento “Riot Grrrl” e para todos os que admiraram a estética DIY do pós-punk.
Criaram canções desiguais e dementes, por via de uma dissonante, mas inata capacidade de compor temas intensamente pessoais, através das suas distintas perspectivas femininas, e reproduzidas através do imoral violino contundente, das irregulares mas emotivas guitarras e das desafiadoras múltiplas harmonias vocais, ruidosos ritmos que resultavam em complexas melodias sem convencionalismos que produziram um estilo musical ímpar, algo totalmente oposto ao que seria de esperar de uma banda cuja influência primaria era o “punk”, visível na perturbadora “Off Duty Trip”, na excelente “The Void” ou na fenomenal versão de “Lola”, um original dos The Kinks.
Como extra na reedição em CD, está incluído o fundamental “single”“Fairytale In The Supermarket.
_
The Slits - I Heard It Through The Grapevine (original Marvin Gaye)
_
The Raincoats - Lola (original The Kinks)

09 dezembro 2009

Tributo # 12 - Luke Haines - The Auteurs - Baader Meinhof - Black Box Recorder

Luke Haines é um dos melhores compositores britânicos das últimas décadas, mas também será provavelmente um dos mais incompreendidos. Ao longo dos anos e através de vários pseudónimos, sempre expressou a sua obliqua afeição pela nativa Inglaterra, especialmente na silenciosa mas feroz luta de classes, que tanto relembrava os The Kinks com os The Fall.
Após várias experiências sem significado, formou os The Auteurs, no início da década de 90, e aqui já se deslumbrava o refinado humor de Haines, visto este ser o único compositor do grupo. Assinaram pela Hut e editaram o glorioso single “Showgirl” e o álbum “New Wave” (1993), o primeiro de vários enervantemente notáveis e intencionalmente mutáveis álbuns.
“New Wave” é constituído por discordantes melodias acústicas e por uma sensibilidades “pop” delicadamente criada, que adornam as letras extremamente poéticas, e está recheado de referências à fama (“Don’t Trust The Stars” ou “Starstruck), que parecem simultaneamente fascinar como assustar Haines.
Seguiu-se o brilhante “Now I’m A Cowboy” (1994), edificado com um visível ressentimento literário e crivado de grandes canções, e mais uma vez, cheio de acusações de desigualdades sociais em “The Upper Classes”, “Chinese Bakery”, “New French Girlfriend” ou “I’m A Rich Man’s Toy”. O triste e agressivo “After Murder Park”(1996) - produzido por Steve Albini - é mais uma colecção de inventivas composições e escassos mas viciosos arranjos (como “Light Aircraft On Fire”, “Unsolved Child Murder” ou “Tombstone”), mas também era brutalmente redutivo, e com referencias a assassinatos e alcoolismo, rapidamente se tornou um intruso para a Britpop na altura no seu auge. O que sempre deu a sensação de que Haines não queria atingir o estrelato como muitas das bandas britânicas da época - Blur, Oasis, Pulp – atingiram.
Depois do erático “How I Learned To Love The Bootboys”, criou o peculiar mas magnifico projecto conceptual Baader Meinhof, inspirado no grupo terrorista com o mesmo nome, onde as insidiosamente doces melodias, e as letras biliosas que caracterizam os The Auteurs continuam presentes mas agora são envoltas com sinistra electrónica.
O mais igualitário projecto Black Box Recorder – com John Moore (famoso por uma passagem efémera pelos The Jesus And Mary Chain) e Sarah Nixey – deixou-nos três excelentes discos – “England Made Me” (um profundamente afectuoso, mas sombriamente cómico olhar sobre os aspectos decadentes da bizarra cultura britânica na década 70); “The Facts Of Life” (um clássico, recheado com um “pop” majestoso, onde Haines progredi através das regiões mais negras de “England Made Me”- como a sociedade de consumo ou a atracção hedonística do capitalismo – em canções verdadeiramente notáveis como “Weekend”, “The Art Of Driving”, “The Facts Of Life”, “The English Motorway System”, “Straight Life” ou “Sex Life”); e “Passionoia” (mais delicada ironia “pop”, se bem que provavelmente demasiado inteligente, onde expressam a sua convicção que estão aqui para nos ensinarem lições sobre a vida – inclui a curiosa declaração de amor a “Andrew Ridgley” dos Wham).
Editou ainda “Das Capital” uma versão orquestral de temas dos The Auteurs, e prosseguiu uma careira a solo, onde se destaca o interessantíssimo “Off My Rocker At The Art School Bop” (mais um sarcástico e caustico relato da cultura e vida britânica nos anos 70, a década onde cresceu Haines, e mais um exibição de génio e coragem, evidente em temas como “Leeds United” ou “Here’s To Old England”.
Ultimamente tentou fugir à imagem misantrópica, que de certa forma sempre o caracterizou, e já este ano editou “21st Century Man”, onde questiona o seu epitáfio.
_
_
_
_

04 dezembro 2009

My Favorites # 18 - Mark Lanegan - “Whiskey For The Holy Ghost” (1994 Sub Pop)

Ainda a propósito do recente post sobre o último disco dos Soulsavers, será uma pena se a maioria das pessoas apenas conhecer Mark Lanegan como ex-membro dos Screaming Trees, membro ocasional dos Queens of The Stone Age ou aquele que tornou os últimos discos de Isobel Campbell tão formidavelmente especiais.
O seu trabalho a solo é indispensável, especialmente o sombriamente esplendoroso segundo disco – que demorou cerca de três anos a gravar, com a ajuda de Mike Johnson na altura nos Dinosaur Jr. e dos veteranos produtores/engenheiros de som Jack Endino e Terry Date, entre outros notáveis convidados – e que é uma absoluta obra-prima.
Triste, profundamente atmosférico e introspectivo, apesar de às vezes ser levemente reconfortante, representava uma significante rotura em relação ao seu trabalho com os Screaming Trees e em relação ao seu primeiro disco a solo - “The Winding Sheet”- revelava uma maior consistência global e um acréscimo de maturidade na escrita de Lanegan.
Ele, confessadamente tentava combater os seus demónios pessoais, que habitavam o seu despojado, mas todavia esperançoso mundo, através de encantadoras canções acerca de abandono e desespero, expondo-nos completamente a nu a sua atormentada alma. Mas a melancolia presente é compensada pelas requintadas e melódicas canções, que surgem uma atrás da outra, tão dolorosamente belas que não deixarão o ouvinte indiferente. E depois destaca-se o baixo, mas profundo tom de voz de Lanegan, marcado por demasiadas garrafas de whiskey e milhares de maços de cigarros, e ao contrário dos Screaming Trees, onde ele forçava a sua voz até ao alcance máximo possível, aqui ele permite-a descer até ao seu alcance mais natural, que reforça a sua abordagem musical, maioritariamente assente nas palavras.
Ouçam a atmosférica mistura do baixo com a guitarra acústica de “The River Rise”, a reconfortante “Kingdoms Of Rain”, a bizarra “Carnival”, a magnifica “El Sol”, a assombrosa “Judas Touch”, a lamentosa “Beggar’s Blues” ou “Sunrise”.
Revelando uma maravilhosa força motriz, é provavelmente o seu melhor disco, e se quisermos enquadra-lo com outra obra-prima de conteúdo similar, podemos coloca-lo ao nível de “On The Beach” de Neil Young.
_

02 dezembro 2009

Rock # 10 - Band Of Susans – “Hope Against Hope” (1988 Blast First)

Oriundos de Nova Iorque, o guitarrista Robert Poss e a baixista Susan Stenger criaram uma banda cujo nome derivou do simples facto de na altura três dos seus elementos se chamarem Susan. Inspirados em igual medida por Glenn Branca e Rhys Chatham, pelos Wire e pelo no-wave dos seus conterrâneos Live Skull e Sonic Youth, criaram um som verdadeiramente único, se por um lado era extremamente agressivo, aguçado e abrasivo, por outro era estratificadamente melódico. Misturaram uma sonoridade reminiscente do movimento “no-wave” nova-iorquino, com outra mais próxima do movimento shoegazing que provinha de Inglaterra.
Resultaram texturas e tonalidades sónicas, executadas através de simples e repetitivos acordes e matrizes de baixo em constante movimento, recheados com enormes camadas de guitarras “noise” para produzir uma vivificante e visceral corrente de magma melodioso, entregues ou pelo ruidoso “falsetto” de Poss ou pelo gentil gutural de Stenger. O facto de coabitarem na banda três guitarristas, deu à música uma qualidade compacta, onde um revestimento tectónico de feedback, distorção e acordes desfocados e disfuncionais, escondia nas dissonantes e inconstantes “walls of noise”, as estruturas e as melodias mais convencionais.
O seu disco de estreia, o corrosivo “Hope Against Hope”, foi considerado por muitos como uma versão americana de “Psychocandy” dos The Jesus And The Mary Chain, e daí destacam-se, para além do propulsivo tema-título, a fulminante “Not Even Close”, a estridente “Throne Of Blood”, a devaneadora “All The Wrong Reasons” ou a densa “You Were An Optimist”.
O disco seguinte “Love Agenda” (1989) é outra excelente colecção de canções embriagadas e consumptivas, que contou com a participação de Page Hamilton, futuro fundador dos Helmet.
Discos fascinantes e que ainda hoje soam actuais.
_